Sentada num banco de pedra - aquele, do tempo do uauê, meu amigo e confidente, parceiro de castelos no ar, na areia e onde calhar, suspiros de além mar, sonhos mais atrevidos;
Aquele, minha fantasia tomando forma de lugar dileto no pensamento vagabundo que se recolhe quando é de se resguardar; que se expõe quando é de se atrever;
Sentada nesse banco que me escolheu, lugar recatado de mim, os pensamentos atropelam o silêncio dos deuses e parece querem falar coisas que eu não sei dizer, não são de dizer ou confessar, nem a boca sabe guardar. E calar...
Anarquista das ideias desconsigo dar ordem no impulso de os travar. Ou na escolha de os deixar soltar.
Espectadora de mim mesma, nem bem nem mal, assim-assim dos dias entediantes, mal dormidos, mal vividos, assisto no banco escolhido, que me escolheu, acolheu e acolhe, à chuva das ideias, palavras, frases e poemas, toda uma gramática procurando se expressar, bailarinos gestos de mim, anseios aos gritos, que hei-de abraçar.
Tudo isto, entre aspas a embelezar, vírgulas a encaminhar, reticências exageradas, exclamações sorridentes, nenhumas interrogações e na voz que a alma tem, enquanto se vagabundeia entre pensamentos insolentes;
Tudo isso - porque, sentada num banco de pedra, o coração se amolece, se aquieta, se fortalece e se junta aos pensamentos libertinos, à voz confessa, mal esperando para se libertar; e com as letras todas que o vocabulário tem, dizer que se reconhece, mais que nesse diz que disse, chamado recatado pudor, no exaltado, intrépido e vagabundo amor...
m.c.s.
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