sábado, 7 de maio de 2016

e eu fui...

...disseram-me que me levavam. À terra dos doutores, dos poetas e dos estudantes que queriam ser doutores. Das serenatas e do Mondego. Da boa e da má vida.
...disseram que me levavam. A ver a minha mãe. Que jazia numa cama de hospital, na terra da morte, também.
Tantos sustos já nos dera. Tanta taquicardia me fizera, já tantas tinham sido as vezes, de camas de hospitais, de médicos e enfermeiras, de sinas lidas a futuros pouco optimistas...
Já tanta alegria a findar-se, tanto sorriso em caretas, tanto olhar perdido, no silêncio da sua resignação...
E eu. E nós. E ela, ali internada, numa cama de hospital duma terra longe, a norte, mais perto da dela, uma terra que eu gostava...
... disseram-me que me levavam. A ver a minha mãe. 
Era o dia dela. No calendário. Era O Dia da Mãe. Domingo, 7 de Maio.
E eu fui. Era a minha mãe. Era a sua filha. Era ela muito doente. Aquele dia era nosso e todos os outros também. Mas aquele... era o dia dela e de todas as mães...
Ela era tão jovem. Tão jovem eu era! 
Tinha apenas 32 anos. E pânico de a perder. E entre angústia e dor, vi-a pela última vez. 
Depois, dois dias depois, partiu para esse eterno sempre onde se encontra e onde a hei-de encontrar...

m.c.s.

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