sábado, 23 de janeiro de 2016

estamos juntas

"...qualquer dia alguém edita um livro com os teus lindos poemas!! tu és especial. tenho tantas saudades da nossa infância ! a tua presença faz-nos bem à alma. bjjjj "
Ela é uma amiga de infância muito querida. Deixou este comentário num poema que publiquei há uns dias. E fez-me sorrir logo pela manhã. Grata e pronta para o abraço do tamanho do mundo. E da paz. Porque estes são os comentários que ultrapassam as redes sociais e o virtual. D' alma. Na nossa cara.
Por vezes pergunto-me sobre quem gosta de mim. Quem de mim precisa. A quem faço falta. A quem faço bem só com a minha presença. Baralho-me. Perco-me nessa avaliação, dessas quase certezas. É tudo tão relativo! A dúvida surge quando a auto-estima é nivelada por baixo e nesses momentos, julgo-me, pouco mais que só. E esquecida neste mundo. Deste mundo.
De repente uma Fatinha, da minha infância, diz-me que a minha presença lhe(s ) faz bem à alma. A tal amiga daquelas que cresceram junto de mim, muro com muro, paredes meias, daquelas que estiveram sempre lá. Nas quedas que deram em fracturas; na confecção de roupas para as bonecas, na ida para a escola no primeiro dia ( pela mão dela que já lá andava ). Nas brincadeiras e partidas. Nas cantorias. Na primeira comunhão. Nas histórias de mãe no patim da casa em noites estreladas. No baloiço e no Boby, o cão que ladrava às nossas pernas enquanto nos baloiçávamos no ar. Nos cigarros negritas comprados pela empregada e fumados na casa de banho do quintal. Nas idas à missa das seis, ao domingo. No gozo que nos dava rir e troçar de uns e de outros. No primeiro baton inventado com lápis dos olhos e creme nívea. No perfume comprado avulso na drogaria do pai do Rabeca. Nas idas à Baixa de autocarro. À cidade Alta; à tia Argentina de onde se via a Baía e os Coqueiros, a Ilha e o Cacuaco. 
De onde se via Luanda exuberante e maravihosa. À rua do Casuno ali em frente do parque Heróis de Chaves, a casa da tia Miúda, e dos primos Xila e Márito, que tinha um piano na sala, fascinante piano a que o Márito arrancava notas musicais, quem sabe para nos impressionar. Das idas para a praia, à boleia. Das invenções de preparado dos bronzeadores. Dos lanches na pastelaria Paris. Das conversas de adolescentes. Da primeira compra de óculos de sol. E do perfume na Romy. Das idas às costureiras. 
Da ida às primeiras boutiques da Baixa. Da nossa banga por aquela Luanda fora, meninas em idade de a termos... 
De repente, uma Fatinha da minha infância, lembrando-me o que fomos. Crianças e adolescentes felizes. Lembrando-me que não posso, nunca, permitir que me reduzam a um número apenas e só, de estatística. Porque tive a infância e adolescência mais lindas que foi possível fazer acontecer. Porque cresci ao lado de gente maravilhosa. Que não via os dias passarem. Passava pelos dias empolgada, surpreendida, curiosa e alegre. Gente que fez história. Na minha história de vida. 
Amo-te tudo querida Fatinha. E também eu me sinto tão bem quando estás! Quando estamos. Porque sempre que isso acontece, Estamos Juntas, mesmo. Minha irmã espiritual. 


m.c.s.

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