sábado, 13 de janeiro de 2018

a chuva e o sábado

Os pombos, os melros, os pardais, os patos bravos e as gaivotas levantam voo dos beirais, chaminés, topo das árvores e esvoaçam em círculos assimétricos, frenética e quem sabe intencionalmente, numa estranha e esquisofrénica dança, à chuva súbita, que em segundos apaga o sol ténue que se fazia príncipe; e que, raivosa, teimosa, dominante, cai na terra sedenta, no asfalto sujo e gasto, na cor verde pálido das folhas que restam d' um outono encapotado, nas babosas do parapeito da janela, frente aos meus olhos medidores e avaliadores da incerteza do tempo. 
É sábado. Esperei o dia - de todos o mais amado, desde a infância. Porque se foram abraçando as lembranças aos amores, o carinho e a aventura, os encontros e as viagens, as histórias de família e ainda hoje, tanto mar ultrapassado, tantas estações vencidas, tantos dias de semana em espera, tantos cabelos brancos disfarçados, tantas almas partidas num sempre que não volta mais mas permanece eternamente, me acalenta o espírito e dá cor às minhas fantasias e esperanças. À minha persistência e resiliência e me impele a seguir...
Tal como chegou, esta chuva tão desejada, que por todos os lúcidos, se pudessem, seria encomendada, assim terminou, deixando, nesta vida que obtenho só de a contemplar comodamente abrigada, uma luz mais branca, mais límpida, mais promissora.
As aves voam agora livres e felizes. Sem pressa nem sustos. 
Não há mau tempo quando é dominável. Nem sábado que não brilhe por entre os pingos da chuva.

m.c.s.

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