quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

reflectindo sobre recomeços

Com frequência vou à farmácia que fica aqui ao dobrar de casa. Sou a cliente do Inderal. Quase diariamente vou ao supermercado e por lá me perco entre compras e converseta com a Marta, a mais simpática da loja; seguida do Mário, seu marido, do Fernando, seu irmão e por fim da Cristina, sua cunhada ( a trombuda do boteco ). 
Duas a três vezes por semana vou à churrasqueira do Vítor, que o é mais da empregada Tina, que quer, pode, manda, nele, nos cozinhados e no que vende; e ainda quer mandar em nós. Duas vezes por semana atravesso a rua para ir ao euromilhões, loja onde está a Nela, ex-empregada do supermercado, o seu malandreco e frustrado marido, pois que as suas piadas são secas e desprovidas de habilidade humorística e algum conteúdo, que provoque um esgar que seja; e também do seu irmão, que anda não consegui definir bem, mas que me parece bipolar, porque, ou está de costas ou de barriga. Ou me ignora como se eu fosse um vidro transparente, ou me chama minha querida num tom que também ainda não soube interpretar. 
Na padaria do meu " cubico " entro todas as vezes que quero pão, bolos, queijo fresco ou empadinhas de galinha. Ou seja, mais do que uma vez por semana. Também de quando em vez vou ao mercado, que fica logo depois da Igreja; como também vou ao Chinês, que é uma chinesa simpática e bonita, junto à cabeleireira. Onde lhes faço uma visita quando preciso de cortar o cabelo. Raramente vou ao Mulemba, restaurante da tia Helena e da Mizé que a semana passada sofreram a dura dor da perda da Cláudia, com apenas 36 anos. 
Deste kimbo que dá pelo nome de Olival Basto, do qual falo com alguma intimidade, é quanto sei. Fica tudo na minha rua, à excepção da farmácia, do chinês, da cabeleireira e do Mulemba. Que distam da minha casa no máximo 300 metros ( o Mulemba ).
Depois e por fim tenho a minha amiga Olívia que vive duas ruas acima. A mais próxima de todos os outros pois que à distância de um telefonema, um " Oi " no chat, ou mesmo dum toque de campainha aqui em casa e umas escadas para subir.
Este é o pequeno mundo meu. A poucos passos de mim. De um sorriso. Dois dedos de conversa. 
À volta de mim estão Odivelas e Póvoa de Santo Adrião aonde tenho amigos do peito. De infância. E uns compadres. 
Dou comigo a pensar que estou bem vizinhada. Protegida e apaparicada. Pela minha amiga Olívia que me chega o saco d' água quente, reumon e o compensan quando preciso; que me toma conta da Pitanga se estiver fora, desce p' ra comprar pão quentinho e volta a subir escadas para mo entregar, só porque estou de pijama. Que apesar do seu ar de generala, dona Tina, demonstra ter algum cuidado comigo; que na loja todos são simpáticos e prestáveis, mesmo a Cristina que tem mais dias que acorda com os pés de fora, ou o Fernando não lhos aquece. Na cabeleireira são umas queridas e conversam que se desunham, muitas vezes tecendo elogios ao meu aspecto ( que nem sempre estou a 50% quanto mais a 100).A chinesa da loja, querida é, mesmo naquela sua pronúncia cheia de eles em vez de erres, no seu desejo de me agradar e me levar a comprar. No mercado idem. Na farmácia há duas meninas maravilhosas, uma que sabe o meu nome e o procura ( tenho cartão das farmácias ) para assim ganhar pontos e ficar registado para efeitos do IRS. Me vendeu a vacina da gripe sem receita médica e fala-me sempre que pode sobre Torres Novas, amiga que é duma miúda que conheço, bem como à sua família ( o mundo é uma ervilha ).
Na papelaria é aquela base. O do " querida " que nem sempre está a favor, a Nela que repete o meu nome vezes sem conta numa vontade de ser mais do que educada, próxima; e o seu marido sem piada mas que ainda assim me trata com o devido respeito. No Mulemba, sou recebida como se fosse a Rainha Ginga por aquela família que tem o restaurante nas mãos. 
De forma que fora daqui e apanhando o transporte para casa, faço-o de plena consciência que aqui é o meu kimbo. Aonde me sinto bem. Mimada. Acompanhada. Respeitada. Valorizada. Há ja 41 anos de vida em Portugal e o Olival é a terra aonde meia dúzia de pessoas me abre os braços todos os dias e sempre que preciso. Só porque sim. E por aquilo que sou e represento para elas. Sendo eu. E dando-me o que sei e posso. Tornando este lugar o ideal para viver. Há 3 anos.
Já precisava...

m.c.s.

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