domingo, 24 de agosto de 2014

não me dêem nadas


Não quero ouro nem prata
Nem qualquer jóia da coroa
Não quero estrelas nem luas,
O sol do meio dia
Nem do barco, a sua proa
Não quero futuros
Promessas
Nem piscar d' olhos
Ou gestos similares
Tão pouco palavras bonitas
Nas vozes caladas, em espera
Ou mãos que não sabem tocar
Lábios que não querem beijar
Nem sorrir
Ao dia, a acontecer
Não quero portas abertas
Reposteiros decadentes
Flores pintadas
Por corações amputados
Vaidosos e dementes
Não quero padrões, ordem, coragem
Para a ausência de presença
De vida, por viver
Não quero provas,
Apagões, sombras, desculpas,
Contas de somar
Não quero arrecadar
Futilidades,
Sótãos
Cromos de colecções
Ou lágrimas de crocodilo
O que eu quero é poesia
Nua, crua e honesta
Útil, solidária, humana
Sem rima rica nem pudor
Onde vença a magia
De cada um ser o autor
Não me dêem nadas...

m.c.s.

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