segunda-feira, 7 de maio de 2018

nunca


Eu até tinha estado numa esplanada junto ao Tejo. A tomar uma bebida. Tinha feito o passeio beira-rio para Alfama. Aceitado duma amiga, uma farofa de farinheira - e no decorrer desse repasto até tinha ouvido histórias escabrosas, de rir à gargalhada. De alguém que conhecemos. 
Eu até saí de Alfama pelas 23, para desbravar caminho até ao Rossio, no meio das obras de santa Engrácia que por lá existem, de turistas meio perdidos e bêbados e de ruas onde só espreita o gato da vizinha, para apanhar o meu transporte habitual, se é noite - o 36 da carris. 
Eu até conheço de ginjeira os abutres que proliferam pela Baixa atentos a quem passa, na escolha das vítimas. Há anos que os vejo vagabundeando por ali. Vendendo óculos com uma mão e com a outra, mostrando, discretamente, o produto. Aos jovens. Sempre aos jovens... 
Eu até já me sentia ' a salvo ' no centro, naquela noite da farofa e das histórias de gargalhar com sotaque brasileiro, circulando a par com as gentes da noite, quando a abordagem dum predador a uma miúda me deu ganas de dar uma carga de porrada no dito, porque o merecia. Pagando por todos os males do mundo. E responsabilizá-lo pela minha incapacidade para o perdão, porque de traficantes se trata, quando subitamente e não tendo conseguido os seus intentos com a miúda se vira para mim e diz - Madame - abrindo a mão e mostrando-me a pedra que trazia consigo. Se o meu olhar matasse ele tinha agonizado como um cão vadio. Eu já tinha presenciado as ' ofertas ' a gente nova mesmo debaixo do meu nariz, mas a mim nunca.
Eu até tenho uma mente elástica e capaz de compreender o incompreensível. Mas droga não. Jamais.

m.c.s.

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