domingo, 9 de julho de 2017

o seguro morreu de velho

Aquele que devia ser o melhor amigo transforma-se no maior inimigo. E a morte é o preço pago pela entrega e confiança.
O namorado, companheiro, marido é aquele que passa mais tempo connosco. Conhece-nos todos os segredos, fragilidades, manias, humor, afectos, sensibilidades, capacidades - todos os contornos da nossa personalidade. É a pessoa mais íntima. Adormece na nossa cama. Come na nossa mesa e da nossa comida, está presente quando nem sempre queremos presenças e vive na nossa casa. Sempre. O contrário também é verdadeiro, obviamente.
Para além do amor, do respeito e da liberdade individual, duas pessoas que são namoradas, companheiras ou marido e mulher, marido e marido, mulher e mulher, são um casal. Com as características, para não lhe chamar obrigações, que implicam duas pessoas individuais serem um casal. 
Nos últimos dois anos em Portugal, mais de 100 pessoas esqueceram que a outra não era sua propriedade, não podia ser desrespeitada. Consequentemente não pode ser abusada, maltratada, ferida, morta. 
Foram mais de 100 as mulheres mortas às mãos dos carrascos em quem um dia confiaram, a quem amaram e respeitaram. Já hoje em Ponte de Lima uma mulher foi assassinada pelo marido. Não sei de motivos. Não quero saber. Não há. Há sim um assassino em potência em muitas casas portuguesas. Saber quem são é difícil. Às mulheres, às famílias, aos amigos e vizinhos, compete denunciar sinais de violência doméstica. Ao Estado compete proteger as vítimas. 
Não nos vamos fingir de mortos. Nem pôr as mãos no fogo por alguém. É que ninguém pode dizer que desta água não beberei, ou de violência doméstica não morrerei. 
Andam ódios à solta que não são presos nem inibidos de conduzir à morte, gente inocente. E o seguro morreu. Sim. Mas foi de velho.
Deixo duas perguntas no ar, para quem as apanhar - Vale mais só que acompanhado? Alguém saberá dizer se quando não está só está bem acompanhado?

m.c.s.

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