segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

o rapaz do acordeão

O som do acordeão entrou no espaço, quebrando silêncios nossos. Olhares embaraçosos. Ou vagos. Enfado. Sono e cansaço. 
A estação ficou lá atrás. 
O rapaz, o acordeão, o cão e a rapariga. A trupe. Invadindo a carruagem. O meu sossego. Os meus tímpanos. O meu direito.
A rapariga, à frente, estende a cesta onde eu iria colocar uma moeda. Se tivesse moedas. Se gostasse do som do acordeão tocando - jimgle bells, jimgle bells...
Se não me deprimisse a presença do cão. 
Se o rapaz não tivesse parado junto à minha tranquilidade, perturbando-a. E não ficasse o tempo necessário para se tornar desagradavelmente eterno.
O metro parou à chegada de nova estação. Com ela, o fim da viagem. 
E o rapaz, o acordeão, o cão e a rapariga foram pedir para outra, de muitas, onde tocarão músicas de Natal, arranhando as notas. Num misto de aprendizes de músicos, num misto de prestadores de serviços. Nas leis da sobrevivência.
Apesar de não dar para esse peditório percebo a moeda de troca; e acho-a justa. Já o cão empoleirado no ombro do dono - o rapaz do acordeão - é a imagem da injustiça. 
E manipulação. Posse e repressão. Oportunismo. Da sociedade...

m.c.s.

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