terça-feira, 5 de outubro de 2010

de mim, a sombra

Nua e crua. Crescendo e soltando-se do aprisionamento do corpo. Desmaterializando-se. Sem artefactos... A sombra. De mim.
Nem sempre sou a sombra. Nem sempre quero ser uma sombra, de mim.
Cativo-me na chuva e na noite escura e longa e escondo-me entre os sons da escuridão e as suas figuras desumanas e assimétricas. Confundo-me na ceguez que as trevas exaltam. Quase sempre. E de sombra nem vê-la!
Contudo gosto dela. O meu amigo sol, na luz que emana, escreve a sete palmos de mim que sou mortal. E ultrapassa-me e é disso que eu gosto. Sermos mortais na nossa eterna sonhadora imortalidade.
Gosto da imagem caminhando ora ao meu lado, ora à minha frente, ora correndo, comigo. Sentando-se sem atrapalhar. Escutando-me muda e queda. E apenas numa linguagem gestual se me afirmando presente.
Uma velha amiga. Leal. Companheira. Corajosa, ouvinte. Amiga de todas as horas, num raiozinho de luz. Par de mim.
Não sei a vez primeira da surpresa, num Oh! que eu sou mais. Outra. Mais que uma. Muitas. A mesma afinal...

Confusamente desde pequena oiço dizer que olho para a sombra. Será por me observarem os contornos incontroláveis ou incontornáveis? Ou será porque quero a minha sombra imortal como dias de sol?...
Só que a luz dos meus olhos se não apague num deixar de funcionar o interruptor que me liga à corrente mágica de uma outra que sou eu, porém intocável, contemplarei a sombra de mim, sempre com deleite. E busca. Procurando-me nos limites da minha condição de alma gémea de mim.

1 comentário:

Anónimo disse...

Gostei.
A.L.