Numa chuva poderosa.
Anunciada que foi, cumpriu.
Encolheram-se os ombros.
Sorriu o espírito, quase provocante.
Num logo se vê, que não me apanha de surpresa nem tão pouco distraída.
Chove mas não sei se chove em mim.
Há dias em que nada sei, nem de mim.
Nem me quero encontrar, nem perder por labirinhos cinzentos e húmidos.
Nem tão pouco vitimizações.
Num doce torpor olho através da janela que me abre portas.
A chuva fala uma linguagem agressiva. Por vezes calculista. Por vezes num sussurro sádico.
Não a oiço. Aliás, entra-me por um ouvido e sai-me por outro.
Nem a mudança de hora me perturba.
Os gritos que a solidão dá pôe-me surda de indiferença.
Não, decididamente esta chuva não me molha, não me chora, não mora em mim.
Pode a chuva acinzentar-se e ralhar ruidosamente que estes dias são de festa.
Têm o tamanho de um fim de semana alargado.
E um piscar de olhos cúmplice e solidário.
E a calma do sofá e o chá de gengibre.
Têm o gosto de um livro. E o ouvido apurado de um disco.
E o sabor da paz e do repouso.
E o rosto de amigos. De novo. Os mesmos e outros.
E uma boa conversa. Gargalhadas. Recordações. Estórias.
A chuva desta vez pode chorar à vontade. Ralhar. Praguejar que não me vai apanhar.
De botas, gabardine, chapéu de chuva e indiferença olho-a de frente e não a temo.
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