Mais uma viagem. Para um fim de semana que pretende ser de trás de orelha.
Ver crias, mas pouco. Almoço de amigos, assim daqueles que são do peito, muito. Tanto que o mundo pára e só existe o espaço onde estamos e nós. E depois porque duas destas pessoas são o que há de mais rico e belo no plano da amizade. E são muito responsáveis pelos momentos mais altos da minha felicidade. Ainda vai haver tempo para uma palestra Herbalife, com médicos da empresa. Um domingo muito saudável, portanto. E a completar o domingo, Paulo Flores, num concerto no CCB.
O fim de semana pode estar a preparar-se para ser espetacular. Até temos o Sol a fazer-nos cócegas e a comprovar que o verão do S. martinho não é treta, porque o dito s. martinho, quando a cria fizer anos estará aí todo elitista e snob troteando na elegância dos cavalos que se irão pavonear na vila da Golegã, aqui ao dobrar da esquina, como dizia, o fim de semana pode ser cinco estrelas, mas há mau tempo no canal, no autocarro que me transporta mais a umas dezenas, para Lisboa. Porque eu posso até estar à beirinha do egoísmo e pensar que este sol é só para mim, que mereço muito e tal e coiso, patati, patatá, mas...injustiças e racismo refervem-me as entranhas.E vou aqui que nem cão a roer ferro e não saio deste autocarro sem que antes o senhor motorista oiça poucas e boas. Agora não que não o quero enervar e o homem tem de conduzir direitinho, perfeitinho, na paz do Senhor, mas mal pare vai comê-las todas.
Então o que é que aconteceu?
Autocarro com lotação pela metade. Conheço já algumas pessoas que ao sábado viajam para Lisboa, vindas de Castelo Branco. Velhos de boné. Mulheres de meia idade ( como eu, que raiva )cheirando a nafetalina e de cesta com víveres para a filha que estuda na capital. Os que vão para o aeroporto. E um rapaz negro com menos de vinte anos. Brinco na orelha e boné tapando parte do rosto.
Dez e trinta. O motorista que estivera a fumar um cigarro entra e pôe o veículo a trabalhar. O rapaz negro levanta-se.
-Senhor motorista, só um minuto. O meu colega está a chegar, com os sacos, vai só comprar o bilhete.
Eu olho para fora. Vejo o colega. Negro. De mochila e vários sacos. Pede que espere. O motorista responde ao rapaz que já está dentro do autocarro.
- Não posso esperar. Viesse mais cedo. Tem outro às 10,45 horas.
Não houve protestos. Nem do meu companheiro de viagem, nem dos outros. Nem do que esperava apanhar este autocarro. Nem meus.
Não sei o que foi na alma destas pessoas. Não sei sequer se o motorista tem alma. Se tiver é bem negra. Nada que se pareça com a cor da pele destas duas criaturas, protagonistas deste ignorância medrosa e cobarde que se chama racismo.
Poderão dizer-me que esta conduta nada tem a ver com racismo. Que podia ter acontecido com um branco. Podia. Claro que podia. Então chamar-lhe ia outra coisa. Mas eu nem sempre chego a horas aos autocarros. Com motoristas que conheço e desconheço. Nunca fiquei em terra. Porque será?
Bem sei que não tenho escrito na testa a palavra fatídica - R-E-T-O-R-N-A-D-A. Nem escreveram que tenho dois tios mestiços. Um cunhado que tem avó mestiça. Amigos negros e mestiços. Se não, provavelmente outro galo cantaria e ficaria muitas vezes a cacarejar nesta capoeira impropérios por ver o autocarro bazar sem mim.
Só um pequeno à parte. O rapaz que vai comigo para Lisboa, atendeu o telemóvel e falou num crioulo perfeitamente perceptivel para mim que tive professoras como a querida Arminda e tantos outros amigos guineenses e catanhós.
-O motorista não podia esperar. Tens outro autocarro às 11.45. Espero por ti na garagem. Em Lisboa.
Assim. Naturalmente. Sem reservas. Reservas tenho eu. E nem que seja só para que fique nervoso, vou fazer das minhas.
Então como é que é? São de segunda? Este senhor não sabe que o seu ordenado só existe porque há utentes? Brancos e negros, amarelos e outros.
A minha vesícula está aos saltinhos e eu tenho um almoço que prevejo fabuloso para viver. Não posso ficar com este fel nas minhas entranhas.
A sério, não acredito como neste país colonizador e que pretende ser exemplo, chegando-se à frente quanto às relações fraternas com os PALOP, ainda existam criaturas que com um poderzinho conferido pelo emprego desinteressante que têm, o exerçam desta forma racista.
sábado, 23 de outubro de 2010
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1 comentário:
é isso aí amiga desanca no animal, decerto não foi a 1a vez k esperou por alguém.......
sabes o k isso é?????
falta de amor ao próximo, infelizmente todos os dias assistimos a novelas como esta,o ser humano tá a tornar-se frio, egoísta e insensível....efectivamente ele tem horário a cumprir e nós qdo tamos lá dentro é isso mesmo k keremos, k eles cumpram o horário pra xegarmos a tempo mas se era kestão de muito pouco tempo.....deixa lá não te desgaste com isso K O DIA PROMETE,,,,,,,,,,,,,,,,,,
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