sábado, 22 de agosto de 2015

talvez

Dias há em que não tenho chão. Onde cair morta. 
E me reanime...

Talvez o dia ainda me acene.
Talvez amanhã eu seja eco. E rocha. E punho. E rejeite os limites. Que me sufocam o crescimento. 
Nessa saia justa a rebentar pelas costuras.
Talvez amanhã, seja diferente. Eu faça diferente... 
Talvez eu acredite e solte as rédeas. E abandone portos (in)seguros. E parta. 
Para fora de mim. 
Esse lugar onde não há muros, fronteiras ou barreiras para a minha expressão. 
Para o meu desfecho. E conclusão.
Para deixar explodir o coração. E ser asa e voar.
Ser inteira. Caminho e luz. Para me achar.
Talvez...

m.c.s.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

tempo de espera


os limites

Eu não tenho asas. 
Tenho sonhos que voam até ao limite do ilimitado voo de mim.

m.c.s.

de novo o sonho

" ...aquele que voa tem de poisar em algum lugar..."
Poisa e pára enquanto pare o sonho. 
Uma vez parido é deixá-lo evoluir livremente. 
Voar...
Até os albatrozes voltam uma vez no ano ao lugar de onde partiram. Para acasalar ( criar de novo o sonho ).

m.c.s.

sonhos

Se para voar precisasse de asas, sonhos meus, nunca sairiam do mesmo lugar. 

m.c.s.

possibilidade

Se o amor faz milagres, santifico-me. 
E milagro-me. Todas as vezes que for impossível.

m.c.s.

nos meus 60 anos a 12 de Julho de 2015


exorcisismo

Há uma cor marfim na minha tristeza. 
Uma fragrância de frangipani na minha saudade. 
Brisa fria e branca nesta falsa paz...
Porque há um silêncio negro e teimoso. Dominante. 
Um sorriso desdenhoso. Obsceno e perigoso.
Rindo-se de mim. 
E uma interjeição. Denegrindo-me a emoção.
Há até moribunda tranquilidade. 
E viva desilusão. 
Destruindo-me a inspiração.
Na esquizofrenia enganosa d' um verão louco a despedir-se envergonhado, há cobardia e desamor.
E intermináveis gestos. De negação. Por tactear. A vida... 
Contas de somar dias, para diminuir o desencontro do coração. Nas contas por ajustar.
Há em mim uma criança meio perdida. Na mudança. Na vontade de chorar.
Há este frio, este vazio de não ficar. De não partir. 
De não amar. De não saber esse lugar. 
Do tempo, o meu sonho matar...
Há no fim, essa certeza.
Há uma cor marfim na minha tristeza...

m.c.s.

cativeiro

                                                                 ( foto do google )
Guardo beijos que não dei
Pele e língua, ávida boca
Quase louca
Toque quente, desejei...
Terra e céu, horizonte
Estrela rei, no poente
Depois do mar e do monte, desenhei...
Guardo sons e acordes, arrepio
Melodia qu' ensaiei e não dancei
Mágico passo a pés juntos
Estreito laço
Soltas as mãos, olhar cerrado, corpo amado
Eu e tu, união, ilusão...
Tu e eu
Fui só eu que enlacei...
Guardo os versos e os poemas 
Palavras soltas, foram tantas
No eco d' outras
Foram puras, foram santas
Foi só cor
Como livre e colorido
Cego e louco
Quase tudo, por tão pouco
Foi meu sofrido amor
Guardo sonhos, adiados, que sonhei
Inspirados
Nesses beijos que não tive
Que não dei...

m.c.s.

ser Benfiquista

Acho, sou benfiquista desde que o vermelho me conquistou, provando-me ser a cor mais linda e vital do universo. Ela é o sangue e a paixão. A bandeira. O verão. O fogo 
e as queimadas. O vulcão. As acácias e as rosas do amor. O rubor. O batom. Os morangos, as maçãs e as cerejas. O pôr do sol. Ela é exuberância. Alegria. Intensidade. Atracção. Conquista. Coração. 
Nasci com certeza predestinada a ser benfiquista. E apesar de ser oito ou oitenta nos meus sentires fui sempre amornando esta fatalidade. Embalando-a mas não exagerando. Para exageros estavam lá o pai e o tio. Alguns vizinhos e os " loucos ".
Mas, olhando-me alma vermelha, sei que ser benfiquista de alma e coração pode ser a meio da semana, assim,
- Vamos ao estádio domingo? Vamos pois. Então vou passar lá para comprar os bilhetes. Boa, disse eu de sorriso de orelha a orelha. E de repente me adociquei e me vesti de vermelho antevendo um estádio ao rubro. As bandeiras esvoaçando, a águia no seu percurso circular, o rectângulo do jogo, a claque e seus cânticos e a emoção de esticar o cachecol, cinquenta e muitos mil adeptos esticando-o, enquanto entoam brilhante e estrondosamente o hino ( ali todos dão a voz e a emoção ) . Sem medos nem preconceitos, os homens vermelhos não se importam de ser " papoilas saltitantes ". Têm nisso o velho e glorioso benfiquismo.
E assim chega um domingo ameno de verão.A época começando. E preparo o cachecol. O coração. O sorriso. Para a festa e mais o que der e vier. E vou. Almoçar perto dali. 
No famoso centro comercial, são às centenas passeando as camisolas e os cachecóis. Enganando a ansiedade. O risoto de frutos do mar sabe-me pela vida. O filme que vejo a seguir, Lugares Escuros, com Charlize Theron ( que é brilhante, como aliás sempre o é ), também. Os M&Ms devorados esquizofrenicamente em vez das pipocas, idem. E assim cumprido calendário de entrada ao prato principal lá vou eu para o estádio. Sem pressas nem excessivo convencimento. O mundo vermelho está a postos. As bifanas, as waffles, as sandes de presunto, os cachorros e até o prego. Paro, paramos,na imperial. Depois nos hambúrgueres. Deixamo-nos ficar a comer e a observar o desfile 
vermelho a caminho não sei de onde pois faltam quase duas horas para o início do jogo. O Mourinho é que era, meu! Oiço a um puto. Sorrio à ideia. Já cá esteve. E nem por isso nos valeu. Imagino aquele rectângulo demasiado pequeno para JJ constantemente pulando a " cerca " e sendo advertido pelo bandeirinha. Coloco o Vitória nesse lugar. Tem de ser. O passado morreu e o futuro é hoje, digo-me friamente. Damos uma volta à loja depois de comermos e termos bebido outra imperial. Epá maria clara já bebeste? Diz-me ela sorrindo entre o gozo e a censura. Eu nem gosto de cerveja, por isso bebo rápido. Faria se gostasses, diz. Não mesmo. Só acompanhando comida. O que gosto mesmo é de panaché. Vai subir-te à cabeça mais rápido. Diz. Enganas-te. Já desceu aos pés. Gargalhada. Encaminhamo-nos para o sector 5. Desta vez apanhamos lugares e fila, fixes. O estádio ainda está deserto. Ficamo-nos a observar todas as dinâmicas enquanto tiramos selfies e eu resolvo experimentar mandar fotos através do telemóvel. Consegui numa vitória de sinal feliz. Finalmente o jogo começa. E começam os nervos. De todos. À minha volta. A cria é contida. Mas sei que sofre. Mais que eu. Quando me abraça e pulamos abraçadas ao primeiro golo, na segunda parte. Ao intervalo disse-lhe - se é para sofrer e dar-me uma coisinha má deixo de vir apesar de não ser atitude de benfiquista mas tenho uma pressão no peito e não estou para isto. Mudo de ideias. Depois dos golos ( 4 ) que me fazem cantar, rir, pular e esvoaçar o cachecol, abraçar a cria e sorrir para os parceiros do lado da frente e de trás. Um estádio inteiro, mais eu, cantamos - O Campeão voltou . Assim fácil. Depois do Ola John ter saído ( nem devia ter entrado ). O jogo virou com os putos Nelson Semedo e Vítor Andrade. Ainda bem que virou. Tinha uma dolorosa dor nas costas. Estava farta d' uma criatura que chamava gordo ao Vitória e o mandava ir para casa. E d' um puto ( não mais de 10 anos ) atrás de mim, que sabia mais de futebol que eu havia de saber toda a vida que ainda tenho para viver e já vivi, juntas. Quando o jogo terminou o olhar aguou-se e relaxei. Relaxámos. O caminho para o metro e a viagem foram rápidos. Enlatados que nem sardinha em molho de tomate, num ambiente alegre e comemorativo com algumas piadas à mistura. 
Afinal acabámos em primeiro, neste jogo primeiro deste novo e surpreendente ( ? ) campeonato. Ganhámos. E bem. Estou contente. Sou benfiquista. E como sou...acho que orgulhosa, respeitosa e ansiosa quanto baste. 


sexta-feira, 7 de agosto de 2015

há a imortalidade ( â memória de Adalberto Gourgel )

                                                                          foto de Adalberto Gourgel
Há um apagão de estrelas 
Na minha alma cansada
À falta de luz que me desnorteia,
Âncora desta cegueira
Ceifada da minha e doutras estradas 
Há um farol apagado em noite de breu
Chuva chorada pelo céu
E kalema inventada nas águas paradas 
Do rio que me banhou na vez primeira, que nele entrei
Há até um gato preto atravessando a estrada 
Uma coruja na torre da igreja
E uma hiena chorando comigo.
Aquela que outrora se ria, à porta de mim
Espreitando a fraqueza
Medindo-me o fim
Há um cheiro a terra molhada...
São lágrimas de dor e perda maior
Nos filhos do amor, da terra mãe
Há a lembrança 
No canto do traço, da luz e da cor
No tempo, 
No espaço ilimitado de quem faz história
Há uma tribo inteira tocada pela dor 
Há uma chuva de estrelas
Nas almas em pranto
Recebendo esse traço, essa cor, esse amor...
Há um homem partindo, terreiro finado
Guerreiro de luz por todos falado
E o além acolhendo-o na sua glória
Há um acrescento de imortalidade na minha memória...


m.c.s.
( partiu a 2 de Agosto último )

o amor não morre

...e de repente o céu se ilumina. 
A terra exala o perfume do éden. 
Os pássaros voam em círculos.
A kianda emerge das águas. 
O vento canta melodias de embalar. 
O velho sorri.
A criança espanta-se.
O coração taquicarda-se. E o mundo pára. 
O passado foi ontem e o futuro não existe. Só a memória. Do que sou. Do que transporto em mim. Do que abraço e sinto.
...e de repente, tão de repente que não tenho tempo de me recompor, desperta em mim adormecido amor.

m.c.s.

domingo, 2 de agosto de 2015

A propósito de extravagâncias e obscenidades



Lendo a indignação de uma amiga virtual a propósito do evento que fará uma cidade ser impedida de passar por uma rua da invicta por esta ser fechada ao trânsito, tenho uma coisinha para dizer, já que na sexta-feira, ouvindo a notícia em sede de telejornal ( não percebo como o casamento d' um empresário, mesmo se é o grande empresário do futebol e tem no seu palmarés como agente, jogadores como RC7 ou treinadores como Mourinho ) ocorreu-me que isto é de facto uma aldeia com meia dúzia de seres poderosos ( cretinos ) que manipulam os mais fracos e desfavorecidos. E manipuláveis. Cara alegre, capacho para botas sujas. 
Isto é não mais que um circo montado em que os palhaços são o povo e eles os ursos domesticados.
Só um conselho à navegação residente ou em visita, no Porto. Livrem-se de irem para a Foz. Correm o risco de gramar com um desfile de vaidades ofensivas, obscenas e ridículas.
Polícias e seguranças histéricos. Jornalistas atrevidos e paparazzis loucos. E no limite, serem detidos para reconhecimento de identidade. 
O que o dinheiro faz! Porque será que não fico indiferente a notícias destas, medidas destas e até opiniões favoráveis a estes procedimentos?
É que parafraseando Jesus Cristo direi que " O meu reino não é deste mundo ", ou será que devo lembrar Saramago que disse " O meu mundo não é deste reino "?!