Na foz do rio Dande tudo parece estar nos seus lugares.
O sol brilha, o céu é azul e as águas temperadas do sal do mar se aquietam. Porque é domingo aqui. O dia do descanso. Dos justos. Dos pescadores de águas paradas e revoltas. Como Deus manda.
É Setembro. E eu estou aqui olhando este manto imenso e morno de cinzento azulado que se prepara para beijar o mar num leve e sentido beijo ansiado de longe.
Eu sei que estou aqui. Vejo-me e sinto-me. E sinto o que vejo. Como nunca sei que existo.
Mais que nunca, sei que este é o meu chão. O meu rio, o meu mar. O meu céu.
O meu lugar de felicidade.
Verdadeira filha de Deus.
Numa religião de muitas promessas e pagamentos, muitas missas e descargas de consciência, receios de justiça injusta, medos, castrações, eu passeio-me desde sempre por igrejas e capelas, basílias e mosteiros, confissões, e actos de contrição, baptizados e casamentos, funerais e desfiles de vaidades em dias de festa. Alegrias. Frustrações. Resignações. Sofrimentos. Pedidos. De mãos postas e joelhos no chão.
Desta vez, aqui neste lugar de Deus, tudo foi diferente. E único. Um momento que aconteceu e não se repete. Assim.
Não implorei. Não entrei no lugar de culto, nem acendi velas. Não desfiei rosários de contas de avé-marias e pais-nossos. Não ralhei com os santos que não me atendem lamúrias, escolhas, futuros. Não fiz o número da coitadinha.
Não cobrei.
Aqui, neste pedaço de mundo, neste dia, especialmente neste momento, agradeci.
Deus existe. É angolano e trouxe-me de volta ao meu lugar de felicidade.
sábado, 23 de outubro de 2010
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