Porque tenho eu um blog?!
Se tivesse 20 anos, empinava o nariz, fazia um trejeito de superioridade e responderia malcriadamente, num tom petulante: sei lá! Porque sim!
Não tenho 20 anos, embora tenha pena, e já tenho idade para ter juízo. Ou seja, não ser malcriada, nem arrogante e embirrante e saber o porquê das coisas.
E sei. E são muitos os motivos e todos igualmente preponderantes na decisão de me meter neste enrascada. Porque é. Não tenho feitio para dar respostas a perguntas que não devem ser feitas. Nem para me justificar. Nem para ler nas entrelinhas comportamentos provocados por idas ao blog à socapa e sorrateiramente. O mundo é uma ervilha. Quem vive nela tem obrigações. E uma delas é respeitar o outro. E se não é para ajudar, então que não estorve, prejudique ou inveje.
Eu não sei escrever. Dou calinada que ferve. E baralho-me nas explanações. E cativo os meus sonhos. E assassino a poesia. E sou a minha principal crítica e não gosto muitas vezes do que escrevo. E envaideço-me com um elogio. E a minha alma cresce quando um filho me diz que : Fizeste um texto que merecia ser publicado em qualquer lado. Um texto, percebem? Unzinho. Mas isso é motivo de celebração. É o crédito. O apoio. Acreditar que de vez em quando Alguém me pôe as palavras nos dedos, as intenções na mente e o sentimento no coração e aproveito essa união de energias, sem saber ler nem escrever ...
O motivo porque tenho um blog é acreditar que um dia chego lá. Noutra reencarnação? Porque não?
Outro motivo é ter tempo, muito tempo, um dado e o outro que conquisto, sacrificando outros tempos, como por exemplo o de dormir, que acho uma canseira desnecessária.
Outro ainda é, amar. A vida. As palavras. A escrita. Os livros. A poesia. As pessoas. As personalidades. As terras. As viagens. O sol. O mar. O verão. A praia. Os sábados. A fotografia. A música. Tudo.
E poder dizer, eu sou, eu fiz, eu vi, eu senti, eu quero, eu não fui, eu chorei, eu gargalhei, eu caí, eu levantei-me, eu arrependo-me, eu aprendo ...Em suma, poder dar-me a mim, alguma importância. Viver.
Ainda outro, agradecer publicamente a todas as pessoas que me cruzam a vida e que me respeitam. A quem eu estimo.
Mais outro motivo. Vaidade. Saber-me alguém que alguém tem nos favoritos. Ahn?! Achavam que eu não assumia? Claro que sim.
Querer disciplinar-me.
Querer Mundo. E o mundo interior que tenho, saltar para fora, encontrar mundos.
Angola. O meu orgulho de ser angolana, falar da minha cidade, do meu mar, do meu sol, da minha gente, do meu povo, das suas crenças, da sua música. Espevitar quem não perdoou Angola. Dar a conhecê-la aos que não conhecem África. Dizer-lhes o que é a minha terra , a sua gente, a sua música, os seus costumes, a sua gastronomia.
Provocar. Espicaçar. Divertir. Comunicar. Dar recados. Aliviar o cansaço e as rotinas.
E finalmente, ter destruido dois diários. Um mais valioso que o outro. Destruído, na véspera de casamento, como se assim naquela destruição estivesse a construir mais verdade e transparência.
O outro, destruído muito tempo depois, assim, sem dó nem piedade. De importância, parte da minha vida, num período. E vou levar muito tempo para me perdoar de ter feito essas mutilações.
Os blogues estão na moda. Eu lia alguns. De gente chegada. E aos poucos comecei a perguntar-me : porque não?! Mais mutilações não.
Por fim e porque acho que me escaparam motivos, mas assim os que me ocorrem foram estes, por fim, uma necessidade gritante, desesperada de estar ocupada e exorcisar fantasmas. De afugentar a solidão de ser sozinha. Com o grande empurrão de dois seres que achavam que tinha de fazer algo por mim, que me desse prazer e fizesse crescer a auti-estima que andava muito rasteira.
Tukayana foi o nome. Em kimbundo, venceremos, e era o pseudónimo que tinha para os meus poemas desde 1975, quando pretenciosamente achei que tinha sensibilidade para escrevinhar as minhas emoções.
E pronto. Eis porque escrevo aqui.
Espero escrever muito tempo. Sempre que puder.
Para toda a gente que clicar em tukayana.blogspot. Para os que conheço e sei que vêm cá e para os que hei-de conhecer. Para os que não conheço e será improvável um dia conhecer.
Para quem quiser.
Acho que respondi à curiosidade de quem me questionou. Mas por favor. Não voltem a questionar-me porque eu não tenho de responder a perguntas que não se devem fazer.
O blog está cá. A escolha é vossa. Clicarem ou não.
Se vierem por bem, têm uma amiga. Se não, vou voltar a ter 20 anos e na petulância da idade, assim de voz pequena, sussurrando, com as mãos nos cantos da boca para que o som saia mais silibado, com convicção digo: eh pá, vai pentear macacos para a tua rua ok? Deixa-me da mão que eu já sou crescidinha táaaaaaaá?
sábado, 9 de outubro de 2010
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1 comentário:
A mim apetece-me responder: "E porque não?"
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