sábado, 4 de setembro de 2010

Uma luz ao fundo...

Tenho uma história para contar. Verdadeira. E eu faço parte dela. Mas antes queria que não houvesse história para contar. Seriamos todos os que fazem parte deste episódio que começou há três anos, muito mais felizes. Adianto que tenho uma família Linda. Funcionam hoje mais do que nunca, num todo. E individualmente conhecem o papel que representam na família e desempenham-no tão bem que já hoje chorei, como há muito tempo não chorava.
Imaginem que um membro da vossa família, com 39 anos, cheio de vida e de sonhos, vai almoçar a casa depois de sair do seu emprego, no carro da empresa, como todos os dias.
E que a um ou dois quilómetros de casa, numa curva, vê um camião vir de frente e depois não vê mais nada, nem ouve, nem sente, nem fala, nem anda...nem acorda.
Mas imaginem que há um outro membro da família, que é a alma gémea deste familiar que sabe que não conseguirá sobreviver a isto, se tudo terminar, e mesmo num coma 4, quando os médicos de serviço vêm dizer-lhe ( eu ouvi muitas vezes ) no final de cada visita de 5 ou 10 minutos que conquistada chega a meia-hora, que as esperanças são poucas, ainda assim não desiste, por ela e por ele, e fala-lhe e promete-lhe coisas, e conta-lhe outras, e ri-se e dá gargalhadas e as pulsações dele são mais aceleradas à sua voz, às suas palavras e abre um olho e depois outro, ao fim de muito tempo.
E imaginem que este doente, que precisa que o seu coma chegue a 12, e depois mais, a 14, mas que dizem que está em coma 4, é mandado para Torres Novas, para...morrer. E vai. E nem no hospital acreditam. Mas ela e nós acreditámos. E ele começa a acreditar, mas não nos diz que sim. Não consegue.
E passam 3 meses.
E há uma enfermeira, a chefe, que acredita e torna-se assim como que uma fada madrinha, dele e dela que lhe pôe música para que oiça e continua a falar-lhe muito, tudo. A contar-lhe coisas de todos os dias. A falar-lhe do cão que têm e que era a menina dos olhos dele.
Chega o Natal e a passagem de ano. Ele inqueita-se mais nesse período. Ela diz-lhe que é Natal. Passa-o junto dele no hospital. À volta deles nasce um sentimento muito forte de simpatia e respeito, desde, auxiliares a médicos. Conhecem-na do seu emprego. Ela trabalha também na área da saúde. Tratam-na muito bem. Ela ajuda-os na higiene dele. Na alimentação. Movimenta-se no hospital, nesse e nos seguintes como se fosse um deles e tudo lhe é permitido.
Um dia ela pediu-lhe um beijo e ele fechou os lábios em círculo como que a dar um beijo. Ela de máscara, dava-lhe beijos já há algum tempo. Os dias passaram. E quem diariamente ali estava foi percebendo que já ouvia e já conseguia ver. Depois foi mexendo um dos braços. Recebeu uma bola e começou a jogá-la fora. Depois a cada uma das pessoas que se encontrava no quarto de visita. Dirigia-a para a pessoa conforme o nome lhe era dito. Foi muita insistência da parte dela. Foi muita aprendizagem da parte dele. Foi muita teimosia. Foi muito amor. É muito amor.

Mudou de hospital. Para Leiria. Depois para Gouveia e depois para casa aos fins de semana, de vez em quando. Em permanência, há um ano.
Neste ano as melhoras foram muitas. Já dá gargalhadas. Os olhos brilham de satisfação quando vê a minha cria mais velha. Quando me vê a sua expressão tem tanta ternura que quase me faz chorar. Lembra-se do passado, do ano de 2007, antes do acidente, temos a certeza. Por isso essa ternura quando me olha...
As suas saídas são para a fisioterapia. Este verão manifestou desejo de sair, a passeio. Os sábados passaram a ser - O DIA - aquele em que ele vai ver o mundo lá fora e gosta. Ela sempre presente.
Eu tenho uma família fantástica.
Não são eles sozinhos, que vão. Entram nesta história agora, mas fizeram parte dela desde o início, quando ela ia todas as quartas-feiras e aos fins de semana, sábados e domingos, para Gouveia, mais dois elementos da família. O irmão homem, dela.
Que tem mais 9 anos que ela e tem sido o mano e o pai e tudo o que é (im)possível ser. E a sua mulher que está presente, sempre.
Hoje cumpria-se mais um sábado de saída. Perguntaram-lhe onde queria ir. Sugeriram " os Olhos d'Água " junto do rio Alviela, O Tejo, lá para os lados da Golegã, Alpiarça e por aí adiante, eu própria sugeri, Constância, Castelo do Bode, a Ilha do Lombo ( Tomar ) ou a Lagoa Azul ( Ferreira do Zêzere ) e ele foi sempre dizendo que não. Perguntaram-lhe sobre a praia. Se queria ir ver o mar. E ele disse que sim.
A praia onde ele queria ir, o mar que queria ver, esse mar imenso, é o mar mais perto da terra onde vive e fica a sessenta e poucos quilómetros. Isso dá mais de 100 kms no total. Muito cansativo. Temiam por ele. Mas ele decidiu.
Imaginem que têm um herói destes na vossa família cuja alma gémea e vossa heroína é a vossa caçula e tem menos 13 anos que vocês.
Imaginem que estão em casa e ao fim do dia recebem uma fotografia no telemóvel ( da cria ) onde estão os vossos heróis... e o mar.
E percebem que o vosso familiar, protagonista desta história foi mesmo ver o mar. Esse mar sonhado. E os outros elementos da história foram acompanhá-lo.
Mas, mas o que vos arranca umas quantas lágrimas, assim como que mar que ele está a ver, é que este herói hoje já pôde decidir. E porque acreditou, foi possível.
O que vos emociona ainda agora, é que este herói que até era pescador nas horas vagas e de lazer, só hoje viu o mar, que não via há três anos.
Três anos... de vida sem ver o mar.
Três anos...
Obrigada família Linda, por fazer parte da vossa vida.

Tenho-vos sempre no coração.
Mas hoje, Jesus Maria, como estou feliz ...e orgulhosa de todos vocês.

5 comentários:

LUANDA De Todos Nós disse...

(Tenho uma lágrima no canto do olho.)

Constancia disse...

Aqui chorei mais uma vez...
Parabéns família linda, continuem a acreditar...

Anónimo disse...

e como podes sentir-te triste amiga com uma família assim?????'ÉS RICA AMIGA, PARABENS

Nada é maior e mais importante do k a união familiar

Maria Clara disse...

brigada Gente!

Maria Clara disse...

brigada Gente!