" Que mais irá acontecer?!Só me falta chegar a Oriente, entrar no taxi e ser o taxista que me levou para o Olival dois dias seguidos. À terceira é de vez. Mas desta, troco-lhe as voltas porque não vou para o Olival. "
Estava eu ainda em viagem, Riachos/Oriente, quando escrevi o que acima inicia este escrito e foi o fim do post que descreve a minha viagem.Mas não. Não dei de caras com o motorista bisado a semana que passou. Cheguei e fui jantar ao Vasco da Gama. Ao Vitaminas, coisa rápida e ligeira. Em seguida fui comprar uns chocolates, bombons, etc, para levar a uma amiga doentinha, que está em recuperação lenta, mas a passo certo.
Depois fui apanhar um taxi.O taxista perguntou-me por onde queria ir, para Odivelas.Disse que tomasse o caminho para o senhor Roubado que a seguir estava por minha conta. Perguntou-me pelo nome do bairro. Esqueço-me sempre. Lembro-me sim que em 75, quando comprou a sua casa ali, íamos à noite, com uma lanterna rua acima por entre prédios em construção. A ruaainda não tinha candeeiros e nem nome tinha. Era a rua projectada a...E disse ao sr. taxista que o bairro tem mais de 35 anos. Construido quando os retornados chegaram de África. A partir daí a conversa fluiu. Quando dei por isso estava a dizer-me que era de Angola. E eu a ele. De Luanda. Mais novo que eu, uns 10 anos, disse-me que talvez conhecesse os primos. Da escola comercial. Não por isso, que eu estudei no Feminino, disse-lhe. Mas sou da avenida Brasil, Vila Alice e tal e coiso...como é que se chamam os seus primos? Numa de ser quase impossível. Como é que eu ia conhecer os primos da criatura? Luanda não é uma ervilha (?).Respondeu - H.P, C.P. e E.P.Oh!Oh!Oh! O E.P. é meu amigo do peito. Casado com uma kamba de infância. Ele estava estupefacto. Eu menos, mas muito hilariante. A mim, acontece-me de tudo. Até encontrar um primo dos meus amigos como irmãos, nestas circunstâncias. Mal dando por isso, já estava a dar-lhe palmadinhas no ombro e a falar da família toda que eu bem conheço.Quando cheguei ao meu destino, telefonei à minha kamba.Advinha quem foi o taxista que me trouxe? Primo do E....Primo? Taxista? Não sei.Chama-se Celso, vê se pode. Amiga, só a mim...O Celso, taxista? kiákiákiákiákiá...ela a rir que não parava e eu idem.Maria Clara, ganhaste!Foi uma diversão. Cinco mulheres a rir e o Celso que parecia azambuado com tudo isto. Graças a este episódio improvável,o Celso viu a minha amiga, a minha amiga do acidente de Marrocos, que eu ia visitar, a minha amiga irmã das outras duas, que está cá de férias, e outra amiga, a Linda que está sempre onde estão as outras. Parece uma coisa banal, primos encontrarem-se. Mas estamos a falar de angolanos. Só por isto, já é uma festa e depois, as famílias estão separadas. Uns em Angola, outros em Portugal e há quem esteja em Londres, em Paris, Brasil e outras paragens. Quando as pessoas se revêm é uma alegria.Afinal foi também para mim, um final de viagem, feliz.O mundo é mesmo uma ervilha e elas que acham piada a esta designação, repetem-na com convicção. Se eu cumprisse à risca o que as crias me dizem a propósito das conversas com os taxistas ( que eu dou e eles recomendam que não dê) não teria conhecido o primo do meu amigo, ele não se teria encontrado com esta família linda, nem teria visitado a minha amiga acidentada e em convalescença. A vida é um risco que nos traz coisas más e boas. Não viveremos as boas, se não arriscarmos.
Quando acabei o post da minha viagem, não imaginava que o improvável, pode acontecer, nem atentei nisso. Embora eu saiba pelas experiências que já tive, que sim, e é por essas e por outras que eu acho que um dia vou ser brindada com o euromilhões, um dia vou para Angola de vez, um dia ainda vou dar de frente com pessoas e situações " perdidas " que hoje me parecem improváveis ou mesmo impossíveis.
Desconfiando sempre, não há quem confie mais do que eu, asseguro-vos.
sábado, 18 de setembro de 2010
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