Saí apressada. Eram 8.07 horas. Que voltas dei, não sei, mas atrasei-me. Acho que hoje estou mais lenta do que nos outros dias.
Desci a ladeira, a Rua do Cabelo do Rato. Como é que pôem um nome destes a uma rua, ainda por cima com uma vista tão bonita, soberba mesmo, para o Vale do Alvorão e Serra de Aire...
Eu cá, cada vez que me perguntam pela rua, digo sem hesitações: Via Panorâmica. Recuso a idéia da rua ser cabelo de rato. Que asco! Que poucochinho!
Via Panorâmica era o seu nome, não percebo que gente tão pouco sensível foi essa que alterou o nome a rua tão bonita. Talvez algum iluminado que teve uma namorada que o mandou ir dar banho ao cão, e por vingança... ai é? Vais ver como elas te mordem...e pagam todos por uma história passional, os da rua do cabelo do rato, ou melhor Via Panorâmica. Que não é o caso.
Como dizia, descia eu a ladeira e subitamente uma criatura sai do prédio onde supostamente mora e inicia a sua marcha apressada, como que imitando a minha. Quando dei por ela, tinha um indivíduo do outro lado da rua, num toc, toc, toc, toc, igual, mas é que era mesmo igual ao meu. Ecoava pela rua abaixo. os meus passos e depois os dele. Uma coisa um pouco esquisofrénica. Como que em competição. Já ao fundo da rua, e porque parecia mais uma cena de filme, lembrei-me da cena da casa de banho, do filme, A Caminho de Santiago, que fui ver no fim de semana. Uma cena tipicamente, cinema espanhol, Almodovar puro, isto é, copiado. Uma criatura está a escovar os dentes, e a outra criatura entra e olha. E começa a escovar. E de repente parecem estar em competição. E a cena não pára e mais parece uma cena de sexo que um procedimento higiénico e diário. Que acaba como que num orgasmo. Os espanhois no seu melhor.
Eu não estava para ali virada. Nem faço filmes pela manhã, nem isto é Almodovar, os meus dentes já estavam lavadinhos e que eu saiba, os meus pés pisando o chão não podem inspirar-me ou a outros a um episódio de sexo. Mas o facto é que a criatura que não sabe que sou doida e penso coisas que nada têm a ver, não aguentou a pedalada e ficando para trás, abandonou a competição que tinha iniciado. A minha passada era bem acelerada e há que ter perna para dar o passo...
Não desisti e cheguei a tempo do senhor motorista me avistar ao longe e abrir a porta do autocarro para que eu entrasse.
Não vos falei do filme mas aconselho a que vejam. Está aí nas salas de cinema. Sem pressas e sentados. Ah, e outro, Entre Irmãos, pesado, pesado, mas, assim como assim, com a aproximação do Outono, tudo o que é soft tem tendência a ir com o sol e as andorinhas. Queremos mesmo é muitos dias assim, cinzentões, como o de hoje, para nos sentirmos bem infelizes, vítimas, até, e um filmezinho vem mesmo a calhar. Daqueles dramáticos que nos façam acreditar que há quem tenha vidas bem piores que a nossa.
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
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