sexta-feira, 17 de setembro de 2010

tangente

De repente vi-me a telefonar para que me levassem à estação dos comboios. Por causa de um telefonema. Chegarei mais cedo a Lisboa. Vou ver pessoas. Amigas.
Foi à tangente com o comboio. Mas mais à tangente que eu, foi um homem que aguardava o comboio no sentido errado. Perguntou-me. Disse-lhe que para o Entroncamento era na outra linha. O meu comboio vinha lá e na outra linha vinha outro. Antes de resolver atravessar fez menção a um ramo de flores atado a um poste, mesmo aos nossos pés.
- Foram dois velhotes, irmãos, que morreram aqui. Foram colhidos - disse-lhe.
Mal acabo de falar e já ele está na linha para passar para o outro lado. Vi o comboio perto. Gritei-lhe. Ele não parava nem voltava para trás. Gritei de novo.
-Oh homem, você morre, saia daí...
Virou-se para mim. Hesitou. E voltou para trás. O comboio apitou e passou fazendo deslocação do ar. Era o Alfa.
Tinha conseguido passar - disse-me com um ar inexpressivo.
Não lhe respondi. Estava gelada e com vontade de vomitar.
O meu comboio chegou e apressei-me a entrar nele sem sequer olhar para trás.
Quando me sentei, vi-o. Na mesma posição.
Sentei-me e tirei a carteira.
Chegou o cobrador. Sorridente. É sexta-feira.
Ainda estava a fazer taquicardia.
Tirei 10€ e ele perguntou-me para onde ia.
Oriente, respondi.
Entrou na cidade de Riachos?
Fiz uma careta parecida com um sorriso.
Já tenho visto cidades mais pequenas - continuou ele.
Eu não. Mas vilas muito piores há aos montes. ( Riachos era aldeia, a maior de Portugal e passou a vila já há alguns anos )- respondi de, conversa fiada.
Entregou-me o bilhete.
- Deixe cá ver então o que é que eu quero mais da senhora...
Apressei-me a dizer-lhe: Nada. Que eu saiba.
Deu uma gargalhada. Já sei. Cinco cêntimos. Mas se tivesse 2,05€ era maravilhoso.
-Não seja por isso. E dei-lhos.
Ao longo da viagem, percebi que este profissional, para além das funções, gosta de inter agir com os utentes. E senta-se na carruagem ao pé de nós, fala com uns e outros e mete-se com os putos. Parece-me bem.
Que mais irá acontecer?!
Só me falta chegar a Oriente, entrar no taxi e ser o taxista que me levou para o Olival dois dias seguidos. À terceira é de vez. Mas desta, troco-lhe as voltas porque não vou para o Olival.

Sem comentários: