São 7,30 horas. Está muito frio, mas não chove. Começou o dia à pouco. A árvore de Natal da rotunda do Senhor Roubado ainda está iluminada. Tiro uma fotografia ( que não posso publicar, depois explico porquê ).
Corro para o metro. O que me vale é que as escadas rolantes foram finalmente arranjadas; desde o verão que se mantinham mortas e não havia ninguém que as ressuscitasse.
Oiço o som do metro a aproximar-se. Ecoa em toda a estação. Corro escadas acima. Sento-me exausta. Uma taquicardia violenta dá-me a certeza de que a decisão de fazer dieta que estou a concretizar desde a semana passada, é a certa.
Tiro o MP3. Tito Paris e a sua morna, mais o som dos violinos, acalma-me.
Finalmente, olho à minha volta. Homens de mochila e chapéu de chuva. Mulheres dormindo. Caras fechadas e tristes, algumas. Outras, indiferentes. Olhares vagos e conformados.
Dou comigo a pensar que queria o poder de penetrar na mente destas pessoas. Saber-lhes cada sonho. Do seu presente. O que querem. O que esperam. O que os faz mover. Porque estão apáticos ou tristes. Porque trazem no olhar, lágrimas penduradas.
A senhora da frente olha para mim. Parece advinhar-me os pensamentos. Tem um quê de intrigante no olhar que persegue a minha figura de cima abaixo. Visto-me de preto, apenas o cachecol e o gorro são beges. Tenho os fones nos ouvidos e nas mãos a minha moleskine, onde escrevo. Percebo-a. A esta hora da manhã, as mulheres da minha idade não andam de metro. Estão a dormir. Ou circulam nos seus automóveis.
A estação do Marquês é a próxima. Onde tenho de sair para apanhar a linha de Santa Apolónia.
Este metro hoje cheira a sono e a bocejo. Tem a cor do desânimo. Fala linguagens arrastadas e bêbedas de noites de insónia. Não quero fazer parte deste cenário.
Chega o metro para Santa Apolónia.
Passa a Baixa-Chiado. A partir daqui cheira a rio e a mar. Um cheiro fortíssimo. Que assusta quem não anda diariamente de metro. Têm na ideia que um dia o rio invade o mundo das toupeiras. No Terreiro do Paço o cheiro acrescenta peixe e gaivotas. Sal.
A estação terminal aproxima-se. É fácil andar de metro em tempo de feriado, quando o dia começou há pouco. Por ser um marasmo. Recheado de bocejos. Os meus também, que dormi três horas. Bocejo de novo.
Desligo Paulo Flores que me canta ao ouvido - Como vai mana xiquita, a vida como vai? A saúde e seu marido, como vai? Nós em casa vamos andando assim assim...
Finalmente Santa Apolónia. A minha viagem de metro termina aqui.
O meu ponto de encontro com os meus amigos é em frente à estação. Assim que saio, sinto um cheiro a pão quente. Fortíssimo. Não me animo.
Bebi um batido de chocolate e não vou comer até ao almoço. Estou de dieta e não posso fazer asneiras. É ponto assente.
" Senhora, dê-me um minutinho? " - Neguei com a mão.
" Dê-me só um eurozinho para ir comer um bolinho ao café. "
Um homem com cara de cão vadio. Pergunto-me se tenho cara de otária. Tenho, pois. Vêm todos ter comigo. Se não faço ouvidos de mercador saio daqui sem dinheiro.
Vou para a rua. Esperar...
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
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1 comentário:
Perfeito o teu diário.
Gosto muito da forma como contas coisas.
Este texto está fantástico.
A.L.
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