quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

colo

Para pessoas especiais presentes também especiais.
Surgiu um convite para ir a Leiria. E eu fui. A propósito, já estou melhor das cruzes. O Voltaren ajudou e de que maneira.
No domingo desesperei atrás da caçula como cão de guarda. Coxo.
As últimas duas prendas ficaram por comprar.
Hoje fui escolher com calma. Com ajuda da empregada. E com paciência minha e dela também.
O sotaque da senhora simpática, a páginas tantas, já éramos quase manas, que não é díficil, fez-me perguntar se era brasileira, porque me parecia uma brasileira há muitos anos em Portugal.
Ela sorriu iluminada.
- Por acaso não sou. Sou de Angola.
Foi a minha vez de me iluminar como se tivesse batido de frente com a minha alma gémea.
- Ai é? Eu também sou. E vou para lá esta semana.
Foi uma festa. A senhora que se chama Susana e tem 40 anos veio para Portugal com 4 anos e de seguida, foi para o Brasil com os seus pais. Tendo regressado a Portugal uns anos depois, já mulher. Estava ela a confessar-se quando se aproximou uma menina nova, colega da Susana. Que também é angolana.
E eu pergunto-me: Será que cada cavadela dá um angolano? Ou caem-me todos na sopa?
Esta última também muito simpática disse-me algo que me entristeceu. Que esteve em Angola há 4 anos e não ficou. Porque não se adaptaria. Na capital. Já do Huambo, gostou bastante.
O pai é médico em Luanda. E recomendou-mo bem como à clínica, em Benfica, perto da feira do artesanato. Só para o caso de ter paludismo. Deu-me o nome do senhor bem como da clínica.
Espero não precisar de conhecer o doutor. Pelo menos nessas circunstâncias.
Ambas me desejaram bons mergulhos, boas caipirinhas, e a mais velha pediu aquilo que as minhas amigas todas me pedem. Que ao dar um mergulho me lembre dela.
Não sei porque me dizem isso. Até porque eu não mergulho. Pelo menos naquela pose estilosa de me esticar toda como se fosse perfilar-me numa parada militar, pronta para a continência e depois ganhar balanço, entesar os ombros e ao mesmo tempo impulsionar os braços para a frente, ao nível da cabeça e cabeçear a água como se fosse marcar golo. Não. Não faço esse show assim do pé para a mão. Não gosto de beber pirolitos nem fazer figuras tristes. E as minhas hérnias não gostam de aventuras marinhas.
Mas percebo que queiram que as lembre lá na nguimbi, nos realmentes. Como se levasse um recado à mãe-terra." Eu vim mas as meninas ficaram lá a desejarem estar no meu lugar". Como eu as percebo...foram anos e anos roendo unhas, fumando cigarros, fazendo poemas, chorando passados, ansiando futuros próximos, de chegar de madrugada, como o Duo Ouro Negro, e beijar aquele chão, como os Papas fazem, não que quisesse ser que nem Papa, mas porque o meu solo é sagrado. Para pessoas especiais, presentes especiais.
Foi o que fui fazer a Leiria. Escolher duas lembranças com carinho. E muita gratidão. E fui atendida por duas patrícias da minha terra.
Deus pegando-me ao colo...

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