Estava na fila da casa da Sorte. Para comprar um euromilhões.
Chegara de Cascais. Resolvi fazer umas compras na baixa.
Percorri a Rua Augusta sem pressas. Tinha mais de uma hora antes que a noite chegasse para fazer parte do vai e vem de uma sexta-feira, como todas, mais que todas por termos o Natal à porta. A iluminação da época natalícia ainda não se acendera.
Queria ir ao cinema, ver o " O Americano " ao Colombo. E mataria dois coelhos de uma cajadada só. Resolveria o problema da minha net móvel numa loja da Optimus.
Ao passar no Rossio lembrei-me do euromilhões. Voltei atrás.
Fui para a fila.
Tocou o telemóvel. Um 93, como o meu. Quem seria?
- D. Clara Marques?
- Sim?
-Sou a Eduarda, da Atlântida. Já tenho o seu passaporte. E as suas passagens e o resto.
-Ai que bom, d. eduarda! Ainda hoje pensei em si. Que nunca mais me dava esta alegria...
O indivíduo à minha frente, olhou para trás, de testa franzida.
Encarei-o com vontade de pôr polegar no nariz e com os outros dedos num nãnãnãnãnã..nã fazer-lhe uma careta.
-Quando quiser pode vir buscar tudo.
-Vou já aí.
E fui direita à Avenida Columbano Bordalo Pinheiro.
Não consegui sentar-me, na viagem de metro que fiz, dos Restauradores até Sete Rios.
Respirei fundo não sei quantas vezes. Funguei outras tantas não sei quantas e as lágrimas brilharam-se-me mais outras tantas. Apetecia-me gritar para um metro apinhado de gente que já tinha o visto para Luanda , no passaporte.
Ao contrário das outras vezes, eu " sabia " que ia correr tudo bem. Não fiz ondas. Não falei muito nisso. Mas estava expectante e ansiosa pelo dia de hoje.
Quando entrei na Atlântida, a D. Eduarda sorriu-me, levantou-se e veio dar-me dois beijos. A Xana ( a que me tratou de tudo o ano passado ) sorriu-me num daqueles sorrisos que eu gosto de receber. Franco e iluminado.
Gosto destas pessoas. E gosto desta agência.
Vim de lá com beijos, abraços e votos de boas férias e boa viagem.
Não consegui entrar no metro. Fiz a pé o percurso da avenida para a Praça de Espanha e depois até ao Campo Pequeno, para apanhar o 36. Precisava de apanhar ar. De ver gente, ouvir falar.
Precisava de não ter de guardar segredo. Queria gritar aos quatro ventos que nada me impede de viajar para Luanda daqui a três semanas mais coisa menos coisa.
Nada fiz se não chegar a casa e vir aqui contar este segredo que eu não quero guardar para mim que até rebento.
Não é por nada, mas são os primeiros a saber. E não precisam de guardar segredo.
1 comentário:
Que bom amiga...tudo está bem quanda acaba bem...estou contente por ti, está quase.
Beijinhos
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