Odeio ir ao cabeleireiro. Não gosto que me lavem a cabeça. A água ou está quente demais ou gelada. E quando por fim acertam, já é hora de nos enrolarem na toalha.
Irrita-me as perguntas para angariarem mais euros, como:
- Vai usar champô especial?
O meu levo-o de casa porque é da farmácia, e receitado pelo dermatologista e elas sabem, mas para o caso de me esquecer...
- Vai querer creme nas pontas?
E eu fico em brasa com a pergunta. Para que é o creme nas pontas? Pois se as pontas vão desaparecer...só se for para facilitar o trabalho à Mónica.
A Mónica, é a cabeleireira, a única que mexe no meu cabelo. Duas ou três vezes no ano.
Não vou ao cabeleireiro. Como a maioria das mulheres. Com esse dinheiro vou ao sushi, ou pago o taxi ao domingo à noite, ou vou a duas sessões de cinema. Opçôes.
E não vou ao cabeleireiro, não por desprezar ficar mais bonita. Não. É que nem fico, nem gosto do cabelo penteado pelas mónicas da vida. Tudo muito certinho. Muito senhoreca. Muito plástica...
Também não vou pôr a tinta. Que dinheirão que levam, quando eu se comprar a própria da tinta resolvo a questão em três tempos com um terço do gasto.
Pareço forreta, mas não sou mesmo nada. Há quem ache até que sou desgovernada. Também não sou. São só opções.
E também raramente arranjo as unhas na manicure. Outro desperdício. Pois se qualquer pessoa sabe e pode arranjar as unhas, pôr-lhe o verniz, para quê darmos as mãos a quem não nos diz nada?
Enfim, vou pouco ao cabeleireiro, mas quando vou, a Mónica pôe a escrita em dia.
- Então d. clara, vamos mudar o look?
- Não, não. Só quero cortar dois dedos no comprimento maior e que me escadeie aqui em cima.
- Porquê? Podia mudar. Fica-lhe bem o cabelo curto.
- Não corto porque há quem goste dele assim comprido.
- Ai é? Então conte, conte. Temos novidades?
A Mónica é divertida e curiosa. Ingénua e querida.
E dava tudo por um romance.
E fez-me rir. A bom rir. Há mesmo quem goste de me ver o cabelo comprido, a minha cria ausente, algumas colegas, a D. Arminda, a filha Filú ( que eu vou ver brevemente ) e eu. Tão simples quanto isto.
Mas a Mónica como boa cabeleireira sabe a vida de toda a gente e gosta de saber de mim.
-Então e o seu cunhado, está melhor?
-Não tenho visto os seus meninos.
- Quando volta a Angola?
- Está mais gordita. Mas fica-lhe bem à cara.
- Já esteve muito magra, mas já passou não passou?
Para que ponha a escrita em dia ela precisa apenas de ter uma tesoura na mão.
Quando dou por ela, já cortou mais do que era suposto. Hoje aconteceu isso com a franja.
- Oh d. clara está tão bem assim! Alivia-lhe o rosto. Estava com um ar muito pesado. Para a semana já tem o tamanho que tinha, vai ver.
Não há forma de me zangar com ela. Mesmo quando lhe disse que não queria que me escadeasse do tipo capacete, que é o que parece muitas vezes, ela se irritou comigo.
A Mónica é uma cabeleireira de bairro. Loira, de corte giraço e moderno. Rechonchuda, bonita e muito simpática.
Vim para casa encomendada com uma boa viagem para Luanda e outra de regresso, um bom natal e uma passagem de ano supimpa.
Ela levou os votos que me desejou a mim menos os da viagem porque não vai viajar. E levou também uma gorjeta porque estamos no Natal e é uma querida, que apesar dos pesares ameniza a minha passagem no salão.
Mas a minha vontade ao chegar a casa foi meter a cabeça debaixo da água e secar eu de qualquer maneira. Como está muito frio, tanto, tanto, que me deixei ficar na preguiça, desisti da idéia.
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