Acordei de madrugada.
A televisão ligada. A janela com os estores para cima. A Pitanga ao meu lado.
Completamente cegueta, procurei os óculos e o relógio.
Cinco e vinte e cinco. Puxei o edredon até ao nariz, fechei os olhos com força.
Virei-me de costas para a claridade da televisão que não apaguei, preguiça pura ou um entorpecimento do raciocínio, que sei eu?!, e não adiantou. Não consegui dormir de novo.
São muitos os pensamentos que me assaltam os sentidos.
Crias, Luanda, Natal são motivos fortes para começar a actividade da minha mente e outros que me abstenho de contar, não pensem que são pecaminosos, não, podiam ser que eu até gosto de pecados, mas pronto ficamos assim que eu não conto, não me apetece, mas que me ocupam o espírito, ocupam .
Sem sono, desesperei. O que vou fazer, tão cedo?
Há mulheres que vão pôr roupa a lavar. Ou engomar. Ou saltam para a cozinha, para adiantarem o almoço. Estão-me a ver não estão?
Já basta o que basta. Longe vai o tempo em que eu, maria clara das dores ia cantando e rindo atirar-me às feras, para o bem da prole...
Hoje, a minha preocupação é fazer compras de Natal porque francamente ainda não fiz nenhuma, e não é que não me apetece? Em casa não há listas por enquanto. De três, dois adoram compras, mas como me falta a muleta fico assim como que amputada na vontade de ir ver mundo que é como quem diz ir para a baixa ou para os centros comerciais. Ele é, para a caçula, para o mano Zé, para os aniversariantes de Dezembro, devia ser proibido fazer anos no mês do Natal, para os cunhados, sobrinhos, uns meninos como família e outros crescidos...e ainda os de Luanda, que aqui é que a porca torce o rabo, porque nada pode ser de muito peso, só a intenção, então tenho que me organizar ( isso é que é o mais complicado ) para encontrar algo que agrade mas que esteja condicionado à bagagem.
Isto é pior que fazer comida, passar a ferro ou limpar casas de banho de madrugada.
Como vêem, acordar de madrugada não é grave porque já tenho tanto que fazer que depressa é meio-dia e eu aqui sem me mexer, só com o cérebro às voltas na procura de soluções.
Liguei o computador, parece que estou a ouvir a minha kamba com ar vitorioso dizer - Bruxaaaaaa...Maria! - então não é bom começar o dia a pensar já nas pessoas que gosto?
Liguei o dito e fui direita aos meus endereços electrónicos. É que ainda não era meia-noite fui assaltada de um sono quase coma, mandei tudo dar uma voltinha e fiz o gosto ao corpo. Por isso hoje madruguei. Julgavam que eram insónias? Nãnãnãnãni! Não sofro disso, graças à Santa.
Depois de ver quem me escreveu, fui ao facebook. Abri os comentários, bisbilhotei comentários e músicas ali colocadas por uns e outros, fotografias, e passei para o blog. Tinha uns comentários que ainda não lera e que li. Pûs uma música do Eduardo Nascimento, do festival da canção do tempo da maria cachucha, agora pelos UHF, que eu adorava cantar, num prazer de abrir a goela ao máximo na parte do Oiçãaaaaaaaaaaaaaao! O vento mudou e ela não voltou, prometeu voltar se o vento mudar..., pois então, há músicas que não passam, numa espera que desespera, mas ainda não vai ser desta, pois hoje está um vento dos diabos. São as músicas que se perpetuam no tempo ( ventoso )...
Por fim fui olhar os blogues da minha eleição. Há uns que não dispenso. Gosto das pessoas. Gosto do que escrevem. Muito.
Comento quase sempre. E se nao comento sempre, é só porque sei que sou uma sarna e as pessoas não têm que ter as mãos sempre a jeito de se coçarem...
Estava eu num desses blogues quando de repente olhei para o mapa mundo, globo terrestre ou lá como se chama aquilo, que gira cintilante e sem parar, no canto direito. E eu que sou tão prevista(??????), que até me faço lembrar uma história que a minha colega Ana Maria conta desde que a conheço e já é do século passado, que lá na terra dela havia uma criatura um pouco poucochinha que dizia, inconformada a propósito de uma reprovação na escola primária" Sou tão esperto, tão esperto, não sei como é que chumbei!... " , ainda não tinha dado por nada, mas dizia eu que olhei para aquela bola giratória e eis que vejo - Odivelas - Portugal. Fiquei-me ali a olhar e a tentar perceber. Aquilo ali parece-me que não é senão a localização das visitas ao blog. Eh pá! Senti-me nua. Mas nua, diante não de um médico que a gente não conhece mas que sabemos que somos apenas um útero, ou um intestino. E quando entramos no cubículo para nos examinarem já não somos gente com identidade, apenas um resto de qualquer coisa.
Nua assim de sermos apanhadas com as cuecas na mão, a bem dizer. Que cena!
Aquele Mundo tinha olhos gigantes e estava a dizer-me que eu, uma criaturinha tão insignificante nesse mundo fantástico, estava ali...
Juro que não estava a roubar nada, nem idéias, que não ousaria sequer, mas senti-me em falta. Acho que até corei de vergonha de ser apanhada.
Depois aos poucos recuperei. Afinal, que mal tem? A criatura, dona desse mundo aí que mexe e remexe e me faz sentir pequenina, sabe mesmo que eu vou lá. Eu até comento...e se está lá é para a gente ir, ler e se quiser, comentar.
Claro que daí a ter idéias foi um ápice. Também quero um mundo assim. É curtido ter noção das visitas que temos mesmo que não estejamos lá in loco, mesmo que não botem faladura.
Quando for grande quero uma coisa daquelas. Não, pensando melhor, agora que vem aí o Natal, quero pedir esse presente.
Xééééééééé´! Me dá então um Mundo assim, na banga!
N'Ganazambiê, me dá então!
1 comentário:
gostei bué e até tenho muitos desses globos. mas não sei quem lá vai. acho só muito giro e então quando aparece Lagoa, Porto... uma piada grande de geografia minimamente invasiva.
É o mundo global.
Vai aparecendo no gelado mundo dos mares
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