quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

dentro de mim um temporal

Sou mãe de mim própria e nem sempre sei cuidar de mim...

Banhada pela chuva ciclonicamente, que nem uma peça, umazinha, que fosse, sobrou seca, para contar como é escapar por entre os pingos da dita. Desta vez, feita fúria violenta. Que até custa acreditar que a água da chuva é uma benção e vale ouro.
Não andam a pé em dia de temporal pois não? De sapatinho de fugir à polícia, muito menos. De chapéu de chuva dos chineses, piorei não foi? E para apanhar o TUT, então? Acabei com o resto, oh se sei...
Quem anda de TUT nas quintas-feiras fingidas de segunda, não vem debitar lamentos e culpas. Vitimizações. Para este lugar da escrita. Há muito se conformou.
É este desenquadramento que não encaixo, mesmo que tente e que me perturba o ser, do ter. E que me faz sentir diferente mesmo sem o desejar. E não mais feliz.
Os meus pés nos sapatos fazendo plof, plof, plof, me dizem que devia ter calçado galochas, mas ninguém as leva para a casa da justiça, que ali é um lugar sério e formal.
O dia está mau. Porque chove muito. Está triste porque não há sol.
É interminável porque estou toda ensopada e odeio isso. Sobretudo se não o desejei.
Sinto-me o próprio pinto calçudo. Atravessando a cheia...
Ilumina-se-me o pensamento para outras paragens, noutros anos, verdes anos, de outras chuvas. Mais quentes e divertidas, nas danças brincadas no meio da rua. Gritando alegre, criança feliz, nossa senhora da conceição faça sol, chuva não. Sob o olhar de mãe. Reprovador.
D. Celeste assomava à porta de casa, encorpava a voz delicada, num fingimento de mãe que ralha e dizia - maria clara ficas doente, sai da chuva maria clara, o pai vai saber...
E metia-me sob o chuveiro do quintal, debaixo da água tépida que aquecia nos canos, no tempo quente, e me limpava depois vigorosamente que até me arrancava ais de desconforto que ela não ligava. E me preparava uma roupa seca cheirando a sabão azul que a Lucrécia lavava na celha do quintal. Dava-me um leite quentinho e eu me sentia o ser mais abençoado do mundo...
Onde estás mãe?
Que esta chuva que mentem dizendo abençoada, me molhou até aos ossos, me provocou arrepios da alma e me trouxe tanta saudade do teu olhar, do aconchego de casa e de certeza de não estar sozinha...
Hoje, mãe de mim própria, nem sempre sei cuidar de mim...

3 comentários:

maria disse...

Sabes sim, minha amiga. Se sabes!
Ontem não foi dia bom para ti e para muitos.
Esta chuva é deprimente.
Bjs

ana disse...

LINDO.

Maria Clara disse...

Muito obrigada.
Beijos