" Não. Agora não vens para aqui que eu quero escrever."
Teimosa, tenta arranjar posição. Estou sentada na cama, com o computador nas pernas fletidas. O espaço entre o meu tronco e o computador é o da Pitanga. Encaixa-se nesse espaço como se fosse uma rainha no seu reino. E não " admite " que eu me pronuncie. Ou melhor, ignora. Ajeita-se sobre o meu braço esquerdo. Atira com a cabeça para trás, num abandono de bebé, ao ouvir o meu lamento sempre igual " Ai meu Deus, Pitanga, não... "
Olha para mim, pergunto-lhe conformada: Então bebé? Tás bem não é?
Deita a cabeça no meu peito num abandono que me comove e desmancha a minha pose.É assim que ela me conquista diariamente.
A janela entreaberta abre-se. Parece um tiro direito a ela. Grito-lhe: Não Pitanga, não.
Tenta a liberdade da rua e do desconhecido. Apanho-a antes do salto para o parapeito. Decido mostrar-lhe a rua à distância do 3º andar.
Está fresco e o vento chega a nós. A manhã parece Outono. Fresca e chuvosa. No conforto que o feriado me dá num nada fazer sem relógio nem obrigações, saboreio o ar da rua. A Pitanga afinal, tão alvoraçada com o desconhecido para além da minha janela, debate-se no meu colo assustada. Tenta recuar para dentro de casa. Sorrio sem ressentimento. Afinal, uma gata não é muito diferente duma pessoa. Nesta necessidade de afecto e também de desbravar mundos. Perante eles, Medo!
A Pitanga ainda não cresceu de forma a poder estar ao parapeito de uma janela do 3º andar segura e tranquila sem correr riscos de uma queda irremediável.
Os gatos dizem, têm sete vidas, mas eu não confio. Portanto, prefiro-a no meu colo, atrapalhando a minha escrita.
Ela escolheu rapar com a patinha, o lençol. Sei que quando o faz quer ir para baixo da roupa. E fica aos meus pés, muito sossegadita. Faz tempo que não pedia que eu levantasse a roupa. O susto deve ter sido grande...
Esta está a ser a minha manhã de feriado, no seu início.
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