quinta-feira, 17 de junho de 2010

os homens da pasta

Ufa! Os homens da pasta finalmente foram embora...
Isto diria eu há uns anos atrás, vendo chegar o último dia de inspecção feita pelos senhores inspectores, os homens da pasta, como os baptizei há muitas inspecções atrás.
Todos chegavam a nós com uma altivez conferida pelo poderzinho de tomarem de assalto todo o nosso trabalho de alguns anos. Desde a inspecção anterior. Mudavam-nos os hábitos, calavam-nos a alegria e por vezes o exagero e faziam-nos ser hipócritas. Tinham-nos na mão. Da nota que nos davam, dependia por vezes a progressão na carreira, a elevação da auto estima, o respeito dos colegas. E sabiam-no. E havia uma vaidade mal dissimulada, uma arrogância declarada. Uma certeza de que faziam de nós seres acobardados e rasteirinhos.
E onde púnhamos os narizes empinados? O profissionalismo ou o cumprimento do dever? Não púnhamos. Tinhamos que nos reduzir a uma insignificância que eles controlavam. No fim, uma chamada ao " confissionário " para nos apontarem as falhas, os erros, com o ar mais paternalista e superior do mundo. Imaginam os nervos, as raivas, os ódios que acomulávamos durante um mês ou mais, a levarmos com estas criaturas horríveis e implacáveis?
Pois é. Chegou o último dia de inspecção. Hoje. Os homens da pasta disseram-nos adeus. Obrigada, felicidades e até um dia...e foram cordiais, ponderados, educados, ouvintes, simpáticos.
O sr. inspector antes de chegar à comarca, telefonara várias vezes. Gostei da voz do senhor. E tive a certeza de que seria uma pessoa como se revelou depois.
Esqueci-me que eles estavam ali diariamente e isso foi bom. Significa que não foram os verdadeiros homens da pasta.
Felismente para mim, estes homens vieram desmistificar a idéia de que são todos iguais e o que nos querem é tramar. Apanhar-nos as falhas, humilhar-nos, descer-nos a nota ou não no la subir de propósito, só por vingança, ou por compadrio e conveniência de uns e outros.
Não sei que nota vou ter nem me interessa. O meu trabalho não teve reparos e ele disse-mo. Por isso estou tranquila. Mais do que a nota, foi importante que quase no final da carreira alguém tenha vindo dizer que afinal há quem ande nas inspecções, que é tal como nós e não se endeusa em redomas intocáveis.
O meu desejo é que haja mais equipas de inspectores como esta. Em trinta anos de carreira foi a 1ª vez que estive tranquilamente trabalhando enquanto o meu trabalho foi observado, analizado e avaliado.
A justiça às vezes tem surpresas. E das boas.

4 comentários:

Anónimo disse...

Nunca é tarde. Caramba, alguma coisa de bom mereces. Parabéns!
Zezé

Maria Clara disse...

Oi amigo! Tudo bom contigo?
Brigada.
Bom fim de semana. Beijos.

Anónimo disse...

Agradeço e retribuo.
Katé.
Zezé

Anónimo disse...

puxa............não te argavam a cueca....
como vês ainda há gente boa, honesta, ainda existem pessoas k com brio profissional....