quarta-feira, 9 de junho de 2010

Recordando

Foi no tempo das maçãs da índia. Dos maboques e dos tambarinos.
Foi no tempo do Sr. Torrão. Da D.Filipa e do Liceu.
Das aulas de Lavores.
Éramos unha com carne. Mas não sabiamos. Iamos estando juntas nas conversas e nas confidências. Nas matérias dos livros e nos intervalos, na fila dos bolos. Na ginástica e nos jogos de ringue, na cerca. Nas idas para casa. Nas gargalhadas. Também nas tristezas, que já aconteciam.
Na aula de Lavores, cada uma exibia os seus trabalhos por acabar. Eu...bem, eu não queria saber de costurar ou bordar, ou as duas coisas, para nada. Como boa canhota, desafinava nas linhas e a habilidade fugira para a vizinha do lado. da frente, de trás. E o pior, é que eu não me importava.
Mas me importava com a tua crítica, sobretudo quando feita na frente das outras. De me dar vergonha e ficar com ganas de ti. E foi o que aconteceu. Ainda te vejo, nos vejo, na salinha pequenina de cadeiras que pareciam feitas para bonecas, a caminho do balneário. parece que foi ontem. Mas passaram tantos anos. Talvez 43 anos. Tinhamos 12, 13 anos talvez.
A infeliz Carolina, a xará, que partiu tão cedo que nos chocou a todas porque éramos umas meninas, riu também, até a Yuri que tinha o mesmo jeito que eu de desajeitada. E tu deste o mote para que elas me " humilhassem " nas suas gargalhadas. O meu mau feitio já vem desse tempo e te respondi mal. Tu devolveste. E as meninas adorando. Prato cheio para elas que sentiam raiva da nossa cumplicidade.
Ficámos zangadas nesse dia e no outro e no outro...não voltamos a falar de olhos nos olhos, até ao fim do ano.
Que resto de ano maldito esse...
O regime do liceu era tão severo, mas no último dia de aulas permitia que nos divertíssemos. E uma das diversões era escrevermos e desenharmos nas batas umas das outras.
Ainda estou para saber onde fui aprender a fazer caveiras. Com ossinhos e tudo, em cima, da cabeça. E nesse ano, nesse último dia, recebera pedidos e mais pedidos para desenhá-las a caneta preta, de ponta de feltro ( marcadores ). Estava eu no meu desempenho, quando te vi aproximar de mim. Juro, nem queria acreditar. Tu? Carolina de Lurdes? A própria? Direita a mim? Assim, de frente, olho no olho? Engolindo o orgulho? Não!... Sim!
E pediste-me que te fizesse uma caveira. E eu larguei tudo e desenhei-te uma bela e viva caveira na tua bata branca de aluna do liceu e minha colega e amiga desde os nove anos.
Serviu-nos de lição. Ainda fomos colegas vários anos. Amigas até hoje. Nunca mais nos zangámos. Podemos não estar de acordo por vezes, mas respeitamo-nos sempre.
Temos mais a unir-nos que a separar-nos. Cada vez temos mais.
Hoje estou feliz porque fazes anos e comemoras a Vida. Casas os anos. 1955/55 anos.
Já te dei os parabéns aqui. Já ouvi a tua voz ao telefone. Já trocámos mensagens.
Já falamos da mulher que te deu à Luz há 55 anos.
Escolhi a música das Gingas, sem saber que era a música preferida dela.
Acredito, porque sabes que acredito, que ela te veio dar os parabéns.
Minha querida, adoro-te porque és um ser humano especial: sensível, inteligente, generoso, feliz, optimista e bem humorado. A minha kamba de sempre, desde menina.
Adoro-te porque sim.
Obrigada por seres minha avila.
Sorri sempre e continua a oferecer as tuas gargalhadas quando houver tristeza à tua volta.
Sê feliz num tamanho igual ao que fazes felizes os outros.
Um abraço do tamanho do olhar de Deus, amiga! E um bom dia de aniversário.

1 comentário:

Anónimo disse...

do k tu te lembras Maria.....não me recordo nem 1 tikinho dessa história....mas também kem te manda ser desajeitada nos bordados?????
Lembro-me bem da Carolina mas da Yuri não...com k então amuaste k nem menina mimada???? perdeste!!! ficaste privada da minha companhia e das minhas gargalhadas (xi k pretensiosa sou)...

Ai de ti se não me fizesses a dita caveira na minha bata.....foi a tua sorte, senão hoje não tinhas «hotel» garantido aki na banda.....ehehehehehehehe