sábado, 5 de junho de 2010

fazer de conta


Porque é sábado, sei fazer de conta com mais propriedade. E sentimento. E sol e cor. E perfume...
Me invade a ternura das crianças e a saudade dos sofridos. E me sento na beira do tanque. Ingenuamente imagino os peixes vermelhos que deixei nessas águas que ficaram salobras, saltando numa alegria da minha aparição. Sei falar com os peixes. Lhes gabo as escamas brilhantes que o tempo não debotou. E os olhos... parece que se comoveram tanto que vejo uma lágrima cintilando. Choro também.
Trouxe comigo a fragância das rosas que o avô cuidou estes anos todos, mesmo quando se ausentou para Sul. As suas mãos eram abençoadas e predestinadas à criação. Até as mangueiras me agradeceram o suave aroma das flores preferidas do meu herói.
Gosto da sombra das mangueiras. Fresca e colorida de amarelo, laranja e vermelho. As cores terra da minha saudade. Me envolvo nelas. Sou filha da terra.
Sinto no peito uma doce sensação a espalhar-se e a dominar o meu espírito.
E ali, junto de mim e dos meus ascendentes, na beira da água fresca que não amareleceu, dos peixes vermelhos que não envelheceram, das rãs que não pararam o seu coaxar, das rosas que não murcharam, das mangas que esperaram por mim, respirando um tempo perfumado que não passou, me vejo querendo ficar. Assim, sem mais quês nem porquês.
É sábado. Não custa sonhar de faz de conta que sou feliz na simplicidade do tempo do tanque, me fazendo permanecer mas partir num oceano para navegar e descobrir ...

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