Sempre que vai vago, escolho o lugar imediatamente a seguir à porta de trás do autocarro. A campainha no varão, à distância de um braço, a porta à distância de dois passos, bem como o espaço ganho com o lugar. E não ter vizinhos à frente, são aliciantes que só quem é burro, perde. Nos transportes públicos temos de escolher o melhor para nosso melhor conforto. Esta escolha faz-se sem que pensemos muito. É o instinto que nos dita a opção. Mas há dias em que não temos opções destas. Hoje, como quase sempre, entrei na última paragem feita pelo autocarro que vem de uma aldeia qualquer, não sei qual e que termina na garagem para reiniciar a caminho de Leiria. É esse o lugar onde me sento, mas só depois dos dois miúdos ( casal de adolescentes ) sairem na Rodoviária. Mudo de imediato de lugar, não vá o diabo tecê-las. Mas quando entrei no autocarro vi que o meu lugar estava ocupado com uma mochila enorme que devia ser pertença de um dos putos ( não mais de 8 anos ) que viajava no banco de trás. Ia sentar-me no banco oposto a esse do lado esquerdo, quando o puto olhou para mim e retirando a mochila disse, pode sentar-se. Sorri-lhe. Sorri-lhe como se lhe afagasse a alma grande num corpo pequenino ainda. Porquê? Porque merece e os pais também, ou quem cuida da sua educação. Conhece-me dos outros dias. Sabe que me sento sempre naquele lugar. Está atento ao que se passa à sua volta. Mas é um rapazinho. O autocarro não ia cheio. Eu podia sentar-me noutro lugar qualquer, mas aquele menino está sensível ao que o rodeia e isso é um sintoma magnífico. Sorriu-me também. Apeteceu-me agarrar-lhe nas bochechas e pespegar-lhe dois sonoros e repenicados beijos. Só não o fiz porque o puto ficaria constrangido. Lembrei-me das minhas crias. Quer um quer outro ainda hoje, adultos que são, se levantam dos seus lugares para fazerem sentar pessoas que eles pensam que precisam mais. Em qualquer lugar. Este puto, hoje, beijou-me a alma e como sei pôr-me no lugar do outro, imagino os beijos, tantos, que as minhas crias dão a cada gesto destes, desde que eram da idade deste menino, até hoje. E rejubilei. O dia começou sentindo-me uma boa pessoa rodeada de gente grande. Afinal ainda se dá e recebe educação.
quinta-feira, 16 de junho de 2011
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4 comentários:
olá! é muito bom quando assim é. se lhe apeteceu fazer-lhes festas ou dar-lhe um beijo, ele iria adorar. beijos
Diz você.
você não Maria Clara, trate-me por tu. tenho a idade de Cristo. beijos e bom fim de semana
Claro que se dá e recebe educação.
Muito mal estaria a humanidade se assim não fosse.
Bom fim de semana.
A.L.
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