- Boa noite. - Boa noite, respondi. Já tinha estranhado que não viesse cobrar-me o bilhete. - Oriente - disse. - Onde entrou? perguntou ele. Nos Riachos, respondi. - Sete euros e cinco cêntimos. Disse-me. Estendi a nota de 10 euros. - Tem cinco cêntimos? - Não sei. Vou ver. E procurei o meu porta-moedas preto que comprei em Genéve quando lá estive, há uns anos. É nesse porta-moedas que guardo as moedas para os trocos, bilhetes de autocarro, elétrico, carrinho no supermercado, chá, descafeinado e outros. - Se não encontrar não faz mal.- Mas tenho de encontrar. - Eu sei como são as malas das senhoras. Jesus, Maria, canário... Apeteceu-me dizer, menos senhor cobrador, menos. Pica de uma figa; perdoar-me 5 cêntimos porque lhe dá jeito aos trocos é uma coisa, ser sarcástico, outra. E abusador, outra ainda. Quem é que lhe deu confiança para tal? Que sabe ele das malas das senhoras? Sim, que sabe ele da minha mala? Tudo o que ele souber é pouco para descrever a minha casa móvel. Vai um lenço de papel? E uma toalhita? Um leque? Um penso íntimo? Ou um penso rápido? Um MP4, uma carregador de telemóvel, o próprio, uma máquina fotográfica? Um caderno, duas canetas, vários batons, vernizes, uma pinça, um corta-unhas, um espelho, uma escova de cabelo, uma de dentes, amostras de perfume, comprimidos, mentos, anéis, pulseiras, pen de net móvel, cartões de máquina fotográfica, pacotes de açúcar e cartas. Várias cartas de serviços. Talões de multibanco, de lojas. Fotografias...isto é do que me lembro. Porque pode ser muito mais. Pois senhor revisor, ainda acha que sabe como são as malas das senhoras? Bem sei que a minha é como o toyota, cuja fama vem de longe. Eu própria acho um exagero e de vez em quando subtraio alguns objectos, mas vou fazer como então, se chego à conclusão de que tudo me faz falta? Gosto de trazer a casa às costas, que nem um caracol e não me arrependo nada. O senhor revisor saiu de junto de mim para continuar o seu trabalho sem a promessa de que voltaria para receber os 5 cêntimos mas eu não parei de procurar e encontrei uma moeda de 10 cêntimos. Quase em Vila Franca, o homem voltou. Estendi-lhe a moeda. - Isso é para quê? perguntou com um tonzinho a dar para o irónico. - Devo-lhe cinco cêntimos. - Está bem, pronto. Ficam as contas liquidadas. Sorriu e conforme chegou assim desapareceu. Às vezes há aitudes que me conseguem surpreender. Para bem. E ainda bem, que assim é.
sábado, 28 de maio de 2011
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário