Viajar nos transportes públicos não é pêra doce. É o tempo que se espera e que nos leva. São os cheiros nem sempre fáceis. São as pernas, os cotovelos tocando-nos abusivamente. São os pedidos de ajuda, as latas na mão, às vezes o cão de lata na boca, coitado, são os bocejos, os espirros, a tosse, os vírus. São os larápios, os bêbados, os mal educados. É o cansaço, o desalento, o sono, a solidão. Faço parte do grupo dos que têm de usar os transportes públicos desde há quatro anos. Não posso dizer que aderi de bandeira na mão, gritando, avante camaradas, avante que o verdadeiro cidadão é o que não tem condição. Ou condução...Mas também já passei a fase de odiar o metro ao domingo. Quando chegava a hora de me meter num metro mal cheiroso, meio vazio, carregado de angústias como a minha e outras, fruto de gentes que nasceram longe, vivem longe e choram saudades, perdas, traições e frustrações, ficava verde, azul, podre, de raiva e de revolta. Não há nada como o tempo. Que tudo (?) cura. Ahn? Então para que são precisos fármacos? Bem, mas dizia eu que já lá vai. Agora sou como aquelas pessoas que preferem andar fora da auto-estrada e assim apreciarem o que se passa à sua volta, conhecendo e interagindo com o mundo real. Cantando e rindo pelos caminhos de Portugal nem que seja ao pé coxinho. Hoje fiz o percurso que faço sempre, ou quase sempre. Quando subi a escada rolante que me dá acesso à estação dos expressos, senti o cheiro do ódio, dor, perda de há uns tempos atrás. Os sentires têm cheiro. Este, deve estar lá sempre. Nem sempre dou por ele. É o cheiro das lágrimas que prendia, de casa, áquele lugar e que ali desabavam sem licença me pedirem. É o cheiro da partida para mais uma semana longe de alguns afectos. É o cheiro da solidão e da impotência que sentia nesses tristes e vazios fins de tarde de domingo em que era dura a caminhada. Sim, cheira muito, quem muito sente. Hoje tive uma tarde maravilhosa numa sala de cinema. Que não queria que acabasse. Que me encheu de sentimentos bons como a emoção. Se calhar, por isso voltei a sentir aquele cheiro de quem não quer partir ao domingo à tarde. Afinal, tenho odor e por isso um dos sentidos bem apurados. É domingo e parti a caminho de mais uma semana em terras de ribatejo, algures numa cidade que se chamou Nova Augusta, Nove Torres, Torres Nove, e que finalmente se chama torres novas e que sobretudo ao domingo dá pelo nome de tarrafal no meu dicionário emocional. Hoje recordei...
segunda-feira, 30 de maio de 2011
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