sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

mais um ano...

Não quis tirar fotografias da entrada do cemitério. Da capela. Não tinha esse direito. Há lugares onde o respeito pela vida e pela morte é mais forte que tudo. Havia funerais a acontecerem ( estes realizam-se sempre de manhã ). Saía muita gente, acabado que foi um dos funerais. Chorava-se baixinho. Lembrei-me do músico Aiaia. Faleceu há dois dias de ataque cardíaco. Aos 50 anos. Era uma angolano branco que os angolanos gostavam de ouvir cantar. Tinha uma música que dizia...cuidado menina, cuidado menina, quem vê caras não vê coração...e tinha um programa de rádio onde punha as suas músicas e dava recados ao pai que vivia em Portugal. Conheci a sua música em 2008 e fiquei fã. E peguei esse gosto ao mano Zé que a esta hora estará a dizer admirado: O Aiaia! Coitado!
E lembrei-me do frei João Agostinho da Igreja do Carmo, que nunca abandonou a sua igreja mas que foi morrer a Portugal, há pouco tempo atrás. Ainda o ano passado no dia da missa do ano do falecimento da mãe Eduarda, ele lá estava celebrando a missa.
E lembrei-me do pai e da mãe. E do avô Carvalho. E de outros...apesar dos pesares, não é Angola que tem a sepultura da maior parte dos que me amaram, mas lembrei-me de todos enquanto tentava chegar ao lugar onde descansa a avó. O portão nunca mais se tornava visível e eu que sou pessimista e precipitada desenvolvi aquela ansiedade medrosa, da possiblidade dela já não estar ali. Mas não foi preciso que os miúdos que estão ali sempre, me indicassem a campa. Eles bem tentaram que eu lhes pedisse para limparem. Não foi preciso. A chuva limpou. Não desarmaram enquanto não lhes disse que não era necessário, reforçada pelo sr. Tiago que me acompanhou até lá, guardando uma certa distância física entre mim, ele e a campa.
Esta é uma das ruas de saída. Acompanha o muro principal do cemitério, paralelamente.
É doloroso dar costas à campa da nossa avó que nem conhecemos mas conhecemos o caminho que nos leva a ela, desde que nascemos.
Não me incomodam cemitérios. Andar neles. Nunca tive medo ou desconforto, eu que fui sempre medrosa. Devo isso a esta mulher que foi mãe da minha mãe e que um dia disse ao meu pai que ele seria seu genro.
Duas borboletas grandes, brancas, com manchas negras esvoaçaram perto de mim e da campa, insistentemente, apenas desaparecendo quando deixei aquele lugar.
Foi mais uma visita à última morada da minha avó...a terceira desde 2008.

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