Aqui está o coração da cidade. Como o Rossio. Ou a Mutamba.
É a Praça 5 de Outubro, em Torres Novas.
Entristeci. Ontem.
E num monólogo desanimado disse-me que não volto a passar um fim de semana aqui na cidade. A menos que se justifique. E francamente, não se justifica...mais cruz menos cruz, que mais faz?!
Chamem-me o que quiseram, mas atrás de mim virá quem bem falará.
Apenas saí de casa a meio da tarde. Para encontrar uma amiga a quem devia um abraço daqueles do tamanho do mundo. E ouvir uma vozita de quatro anos chamar-me tia Clara com ar envergonhado de quem já não via esta tia há muito tempo.
Pelo caminho percebi o fantasma em que se mascarou esta cidade tão bonita. Senti-lhe o frio gélido duma terra solitária que foi perdendo a juventude e a alegria de outros tempos. Já nem os jovens retornam ao fim de semana, não trocando as cidades grandes , por este lugar onde nasceram e viveram até ao 12º ano. E os que se penitenciando, chegam, procuram outras paragens ao invés de passearem nestas ruas, ou se encontrarem com os amigos nos bares da cidade. Porque os há. E muitos. E até se dizia que estavam sempre cheios nas noites de 6ª feira e sábados. Com gente de Alcanena, Entroncamento, Golegã, Barquinha e por aí fora.
Por todo o caminho que percorri desde a minha casa, perto do Estádio, até ao rio, à Avenida marginal, não me cruzei senão com uns indigentes que por ali se passeiam mesmo durante a semana e que conheço de gingeira por força da minha profissão. Apenas junto à farmácia Nicolau, em frente ao tribunal uma senhora mais velha que eu, de ar respeitável, embrulhada num xaile escuro, muito triste, cabisbaixa e cinzenta, ergueu o rosto e me saudou num boa tarde menina que me chegou como se fosse um golo de chá quente que aquece a alma em dia de tempestade.
O supermercado solmira e a farmácia tinham as suas portas abertas mas ninguém lá dentro. Alguns miúdos andavam de skate no átrio do tribunal. E só...
Quando toquei a campainha da cabeleireira onde a minha amiga se encontrava, doia-me a alma, pesavam-me os ombros e os olhos choravam num desalento que não quero ter.
Apenas queria estalar os dedos e estar a léguas deste cenário triste. Circulei por toda a cidade depois e o cenário era idêntico.
Não quero ver morrer esta terra. Não quero deprimir e adoecer perante um declínio tão chocante.
Não quero esta terra moribunda, que foi palco de alegria, hospitalidade, cultura, lazer, arte e muita juventude, num tempo que não é passado na História.
Não quero estar presente assistindo ao funeral duma cidade tão bonita e moderna, perto do mar, perto do campo, perto do centro, perto da capital. Perto de tudo...
Sou culpada? Também. Porque não só não intervenho como o fazia antes, como não cativo os meus a voltarem nem que seja ao fim de semana.
As universidades formaram os nossos jovens mas não lhes mostraram o caminho de volta. Nem nós. Partiram para Lisboa, Porto, Coimbra, Faro, Évora, Aveiro ou Covilhã e Vila Real e dali voaram mais alto ou simplesmente se deixaram ficar nas cidades que lhes deram emprego e melhores perspectivas.
Quantas cidades estarão como Torres Novas?
Este fim de semana supunha ser um tempo de reflexão, que acabava hoje com o voto.
Eu voto. Mais do que uma cruz, eu apelo ao voto nas cidades que agonizam.
E tenho um desejo grande, um desesperado anseio de ver estas terras que chamam de província ressuscitarem da indiferença a que as votaram.
E por último pergunto, onde estão os culpados?!
Onde estão os verdadeiros carrascos desta cidade e outras que têm tudo para fazer as suas populações felizes e simplesmente as abandonaram...Onde estão os verdadeiros culpados?
Nas urnas?????
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