quinta-feira, 4 de novembro de 2010

viagens cá dentro

O TUT vinha à pinha. Não gosto de andar de TUT. É tudo ao molhe e fé em Deus.
E eu fico sempre no lugar do molhe, porque chego tarde para me sentar. Toco nuns e noutros. Tenho um problema com cheiros. Odeio cheiros. Maus. É visceral. Enjoa-me e revolve-me os fígados. Ando para a frente e para trás, agarro-me a tudo o que é agarrável, ou parece que é. Balanceio como que andando de barco. Para as Berlengas. Enjoando, enjoando, desejando chegar a terra firme.
No " meu " autocarro de todos os dias tudo se processa calmamente. Os mesmos de sempre, cinzentões, mas tranquilos. E os putos. Apesar de não serem como os do outro ano, levam-se bem. E hoje até que vinham animaditos. Desconfio que o sol tem muita culpa disso. Move-os. Desperta e aguça os seus espíritos malignos.
Ouvi, mesmo ao meu lado a uma miúda novita, talvez 16 anos: É Angola, aquele país que correu com os portugueses no 25 de Abril? Os portugueses bazaram, com a guerra dos pretos. A minha mãe tem uma tia que tinha lá bués e veio p'ra cá lavar escadas.
Atrás de mim outra miúda dizia: Hoje estou de parabéns. Porquê, perguntou-lhe um puto. Faço um ano. O quê? Namoras com o puto há um ano?
Quando estavam quase a chegar à Artur Gonçalves outro disse: Eh meu! Olha os gajos... Quem? Aqueles gajos todos os dias estão ali. Ela encostada à montra e ele a malhar pela frente.
Os putos hoje estiveram um pouco ignorantes, um pouco observadores e até críticos.
Olhei um pouco para dentro e vi-me nos dias de calor e preguiça atravessando o areal entre o liceu e a escola industrial. Para além de mim, Milú, Mena Lima e Arlete. Alegres, divertidas, catrapiscando os putos da Indústria, cantando Elis Regina ...sou caipira pira pora nossa senhora de aparecida, ilumina a mina escura ...
Eram bons tempos. Os tempos dos putos de hoje. Com uma linguagem diferente, noutra terra, com outras perspectivas e outros devaneios, mas seguramente com sonhos idênticos. Pelo menos o de crescermos e sermos felizes.

Sem comentários: