- Temos meia-hora para chegarmos ao Corte Inglês.
- Para quê? Por acaso preciso de lá ir, tirar fotografias.
- Para irmos ver o único filme que agora quero ver, se quiseres.
- Qual?
- A Troca.
- Então vamos.
- Fotografias para quê?
- Para o Visto.
- Então vá. Estás pronta?
- Falta pôr baton e pentear-me.
E fomos. E vimos o filme, comendo pipocas e bebendo cola, como quase sempre. Jennifer Aniston, linda também como sempre. E interpretando belissimamente. Só para a ver representar, já vale a pena ir ao cinema e escolher um filme onde ela seja a protagonista.
No fim, subi ao piso seguinte para mais uma vez e à semelhança do ano passado tirar fotografias a la minute.
Disse que as fotos eram para visto em passaporte e como tal que agisse de acordo.
A senhora fez-me entrar num cúbiculo mal amanhado onde nem sequer um espelho existe para a gente antecipar a desilusão da imagem de luz e apontou o banco velho.
Muito senhora do seu nariz disse que teria de tapar o decote com o lenço que trazia ao pendurão.
E acrescentou em tom muito profissional:
- Não pode inclinar a cabeça. Tem de olhar de frente. Levante o queixo e olhe para a objectiva.
Sacana do poderzinho! Basta uma máquina na mão a decidir o meu rosto e já se empertiga a voz num comando antipático e prepotente.
Apeteceu-me deitar-lhe a língua de fora, puxar as orelhas para baixo, revirar os olhos até os entortar, meter o dedo no nariz e num nanananananã, toma-toma, deixá-la a mandar bitaites para os da rua dela.
Em vez disso, olhei para onde me disse, puxei o queixo para cima, arrebitei o nariz ( coisa que se esqueceu de dizer, claro ), e nem pestanejei.
Mostrou-me a foto. Horrível. Aquela não era eu. É o que faz andar ao mando de terceiros.
- Que horror! Nem pareço eu...
Ela riu-se num esboço a raiar o sarcástico, que juro, não gostei. Não há direito.
Deviam ser de cera, estas pessoas que nos dão vida para o papel brilhante e retangular das fotos de passe para documentos. Numa coisa rapidinha. A bem dizer, a la minute...
E mais uma vez, à semelhança do ano passado, esta situação suscitou-me algumas questões.
O sorriso dela era de comiseração?!
Será que só eu não vejo como sou?!
Mas então porque é que isto só acontece nas fotos de passe? Quer dizer, acontece mais nas fotos de passe?!
Uma vez no ano olho a minha foto e não me reconheço. Recuso ser aquele ovo estrelado, demasiado frito em azeite de má qualidade.
O que vale é que é apenas uma, a foto, multiplicando por quatro. O mínimo dos mínimos, portanto. Só são precisas duas, e as restantes, como já ninguém cola a foto em livro de autógrafos nem escreve quadras pirosas do estilo " casa-te com um coxo que um coxo também se ama, só a graça que ele tem de ir aos saltinhos para a cama...", lá terei que as guardar num daqueles sítios muito bem guardados da minha desorganização física, que não me desespera porque dizem que quem assim é tem uma mente muito bem arrumada, e atirá-las-ei assim para sempre para os perdidos e achados, sendo que serei dona de " uma branca crónica", que me impedirá de ter memória para ovos estrelados numa fritura que faz mal ao colesterol e à minha auto-estima.
Ai minha terra a quanto me obrigas! Quem dera cá o Visto, mais cara d'ovo menos cara de pau...
domingo, 14 de novembro de 2010
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3 comentários:
quando xegares a banda tira fotos lá pode ser k saiam melhorzinhas e guardas de modo a k não te eskeças onde as puseste.... a propósito de eskecimento (natural na nossa idade ihihihih), toma GINGKO BILOBA é o ideal e natural
Sim dôtôra! Vou procurar no Celeiro, sempre acumulo pontos ( eu e os cartões para beneficiar dos produtos )ou no supermercado do Corte Inglês.
Jinhos
Ovo frito, clarinha?
Longe disso.
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