Tive um tempo em que tinha dois pares de sapatos. Uns castanhos e outros pretos. E um casaco comprido e outro curto, de agasalho. E meia dúzia de peças de vestuário para o dia a dia.
No verão comprava umas sandálias, de preferência brancas. Ia à feira comprar t-shirts e aproveitava para escolher um saco que desse com tudo. Tinha um baton castanho e outro vermelho. Um dia punha um, outro dia outro e no terceiro misturava um e outro e fazia uma nova cor. O perfume tinha de durar seis meses. Um recebia no Natal e outro no aniversário. Rejubilava quando alguma amiga ia a Badajoz e trazia de presente uma colónia daquelas que era ao preço da uva mijona. Depois apareceram os artigos por catálogo. Compra agora e tens 12 meses para pagar. Fazia uma encomenda e quando esta chegava parecia dia santo, do tipo, é hoje, é hoje, tal o meu contentamento com os trapos novos.
Os livros que lia, ia requisitá-los à biblioteca e os que tinha eram oferta. As músicas que ouvia passavam nas cassetes que me gravavam e os discos que possuía, oferta eram.
Praia via-a em Agosto, por 15 dias, fazendo campismo ou alugando casa das baratinhas.
A Lisboa só vinha para consulta médica. Desejava ter qualquer coisita assim que não fosse grave, que me fizesse viajar para a capital.
E o Continente e o Colombo foram uma revolução nas minhas rotinas.
Longe vai esse tempo. Embora o longe se faça perto. E tenho um palpite que ainda vou voltar às feiras e aos catálogos, tal vai o (des)poder de compra que aí chegará. Digo eu que não sou bruxa nem aprendiz de kimbanda.
Dessa época que durou anos, ficou-me algo delicioso. O gosto pelo namoro. Eu sou muito namoradeira das coisas que gosto e quero para mim. E os meus olhos gostam de coisas bonitas e saborosas.
Uma montra que visse, que veja, e que tenha nela algo que gosto e quero, é visitada por mim as vezes que forem precisas até comprar ou ver o espaço vazio da venda a desconhecido. Gosto desse flirt. Desse piscar de olhos nem sempre correspondido. O ritual da coisa. Acho que herdei isso do meu pai. Acho se calhar que herdei isso porque sou Caranguejo.
Gosto de feiras. De qualquer coisa. Nem que seja de couves, alfaces e nabos. Mercados. Lojas. Armazéns. Supermercados. Lugares de venda. Gosto de passear por entre as prateleiras. Os produtos animam-se de vida e animam a minha vida. Gosto de ver as frutas serem vendidas na beira da estrada. Laranjas do Pafarrão ou Carregueira. Cerejas do Fundão. Ou batatas de S. Martinho do Porto. Cavacas das Caldas. Pão do caco da Madeira. Mangas, tambarinos, maçãs da índia, mamões, cocos, cajús de Angola.
Penso que não são reminiscências do passado. Apesar dos pesares tive sempre o suficiente.
Mas como gosto de andar às compras!...
Não é consumismo. Gosto de me passear nos lugares. E namorar...
Gosto do supermercado do Corte Inglês. Das prateleiras dos produtos naturais. Dá-me uma vontade de encher os carros com as sojas, as aloéveras, os ómegas 3, as barras, as sobremesas, os bolos secos.
E os cremes naturais. De baba de caracol ou rosa mosqueta, tão na moda. E acreditar que se acabam as manchas, as rugas, as estrias ou as celulites.
Faço-lhes aqui um namoro cerrado, quase que de oito em oito dias, e cada vez experimento um produto, nem que seja um iogurte de soja ou um leite de arroz e aveia.
Tenho pena que não haja um casamento longo e duradoiro com estes lugares e produtos.
Por outro lado algo me diz que o encanto está no namoro. Na impossiblidade de pôr para o carrinho tudo o que desejo e com que sonho.
Mas juro, até gostava dum totolotozito para tirar a prova dos nove. Sim porque com os humanos já sei que vale mais um namoro condicionado, mas eterno.
Ontem fui às compras. Ao supermercado do Corte Inglês. Menina dos meus olhos. E podem não acreditar mas vim de lá consolada. E só trouxe comigo um iogurte de meio quilo, de limão, de soja claro.
domingo, 14 de novembro de 2010
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2 comentários:
Ainda bem que te consolas com pouco, minha querida amiga.
Mas um iogurte de 1/2 kilo...não se estraga?
Zé, queres que te responda mesmo?
Não queres porque já sabes que te vais dar mal, à semelhança de outras conversas.
Lê de novo amigo,para perceberes a alma feminina.
E não se estraga ( o iogurte ) que apesar de me consolar com pouco ( ? ) sou de alimento e iogurte é saudável.
Diz lá krkrkrkrkrkrkrkrk...
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