Já fazia calor. Era noite.A loja tinha sido fechada às pressas.
O avô estava sentado no patim da casa. Da frente da casa. Comigo ao colo.
As folhas das mulembas não buliam. Em frente à casa tudo estava sereno.
Nessa noite escura de uma avenida mal iluminada e encerrando no cansaço de um dia de semana, eu estava impedida de entrar em casa. Não percebia porquê. Tinha quatro aninhos e escapavam-se-me os pormenores, mas sabia o essencial. A mãe estava a ter um bebé. Fora o avô que mo dissera ao ouvido ao mesmo tempo que me prevenira para me portar bem e não chorar. O pai estava com a mãe e com a parteira, D. Apolónia, a mesma que me fizera nascer, bem como a que fizera nascer a caçula nove anos depois de ti. Os três fechados no quarto.
Eu era chorona. Mimada e queria " a minha mãe " e o avô que comigo tinha toda a paciência do mundo naquele dia não estava pelos ajustes. Devia estar nervoso.
Lembro-me duma noite longa, longa, e para final muito agitada e descontrolada.
Mais tarde soube que tinhas nascido mas que não tinha corrido bem. Tinhas quatro quilos e tal e o trabalho da parteira Apolónia fora dificultado por isso. Ao nasceres fraturaste um dos braços. A vida toda ouvi o pai dizer que a parteira te partira o braço em três.
Lembro-me que passados uns dias vi chegar um carro à porta de casa. daqueles desse tempo. Um espadalhão cor de café com leite. Dele sairam o pai, a mãe e tu, ao colo do pai. Tinhas o braço engessado.
Passaram 51 anos desse dia que não é mais do que o dia de hoje, volvidos que foram todos estes anos.
Foste um filho amado. Um irmão mal aproveitado, mas disso não tens culpa. A culpa é minha.
És um pai extremoso e um marido amigo. Um cidadão que cumpre. Tens como a nossa família tem, esta coisa da família, respirando por todos os poros. És o meu mano Zé.
Vou dizer mais o quê então?
Se estivesse nas minhas mãos, hoje dar-te-ia o presente maior de todos. O mais sonhado, aquele que te fará mais feliz e que mudará para sempre a tua vida. Sou uma tesa e não posso fazer-te essa oferta, mas um dia...aiuê meu irmão, um dia vamos estar juntos na terra de todas as terras, naquela que te deu o primeiro sopro de vida, te ouviu o primeiro choro chorado e te acompanhou nas caminhadas durante alguns anos. Como está quase a chegar o dia para fazer a passagem para esse mundo de amor que ambos conhecemos tão bem, prometo-te que pelo menos um maboque, quitaba e paracuca eu vou arranjar espaço para te trazer yá?
Mano Zé, muitos parabéns. Vive este dia tão teu, com alegria. Acompanhado pelas tuas pessoas.
Muito obrigada por tudo o que tens feito por mim.
Beijos, todos. Abraços, daqueles maiores do que o Universo.
Sê feliz.
terça-feira, 16 de novembro de 2010
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