Oito horas. Bato a porta de casa. Chego à rua. Chove...
Aquela chuva molha-tolos que se torna um dilúvio ao fim de um quilómetro a pé.
Decido voltar atrás, para apanhar o chapéu de chuva.
Como sempre, a Pitanga é inconveniente. E perturba-me as voltas. Dificulta-me os movimentos, atropela-me a pressa e atrasa a minha vontade de 2ª feira.
Decido apanhar o TUT por falta de tempo. Cinco minutos perdidos e é a morte do artista.
Este chega atrasado e não tem pressa no seu percurso até à Rodoviária.
Quando avisto o meu autocarro as portas estão a fechar-se. Não desisto. Corro. A sorte é dos sapatos rasos, que parecem dar-me asas.
O motorista do autocarro que vai para o Entroncamente, busina ao meu, a avisá-lo da minha chegada. A senhora da bilheteira, que se tornou minha amiga desde que me anunciou que era da família do César, meu amigo moçambicano que vive na Cruz de Pau e foi meu padrinho de casamento, acena também como pode.
Finalmente chego junto do autocarro. Os companheiros de viagem dos bancos da frente fazem-me gestos, riem-se e falam como nos filmes mudos, articulando palavras em silêncio, que não entendo. O autocarro continua a sua manobra. Bato na porta da frente e o motorista acena com a mão como que a dizer que já não abre a porta para me levar. Não acredito nisto. Olho a rapariga que se senta sempre a seguir às senhoras da frente, aquelas que parecem os marretas, e pergunto-lhe: Ele não abre a porta? Não me leva, não posso crer...
A rapariga ri-se e acena afirmativamente. Finalmente o senhor motorista imobiliza o autocarro , pára e abre a porta.
O autocarro estava divertidíssimo com o que achavam que era uma partida. O senhor motorista ria de ficar com os olhos pequeninos. Entrei e cumprimentei todos. Assinei o bilhete, entreguei-o e fui para o fundo.
Bocas como, Ahn, ia ficando em terra...Isso é que foi correr...Estava a ver que o motorista não a levava não é?
Quando estava sentada, rebobinei. Percebi que estas pessoas fazem parte da minha vida mais do que julgo, mais do que quero.
E senti-me mal por não lhes dar o devido valor. Nem sequer sei o nome do motorista. Não sei o nome da maior parte deles. E quando entro no autocarro ponho os fones e oiço música. Vou ouvindo os putos falarem por me sentar próximo deles e a minha viagem diária é feita de coisas minhas apenas, onde eles não intervêm nunca ou quase nunca.
Não gosto de ser um número.
Hoje senti vergonha. Olho estes seres, muitas vezes como se o fossem. Eles olham para mim como uma deles. O que eu vi ali antes de entrar no autocarro, quando entrei e quando passei por eles chama-se companheirismo, cumplicidade, amizade.
Que lição que eles hoje me deram!...
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
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1 comentário:
viste amiga?????? andas há tempo com eles sem lhes dar importancia afinal eles importam-se contigo.....ainda vais a tempo de lhes dar mais atenção....aproveita pk a vida é feita dessas «pekenas« coisinhas, gestos k nos enchem o coração..
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