terça-feira, 6 de julho de 2010

padre Hilário


Neste cu do mundo, num Ribatejo por vezes tão provinciano, eis que me deparo com um padre negro, com sotaque angolano ( não sei se é ) dando missa na Igreja do Carmo, desta cidade.
Não assistia a uma missa há muito tempo. Não é que não goste. Não tenho é pachorra para as homilias chatas e retrógadas, que já não fazem sentido e não me consigo concentrar nas palavras e no acto solene. Enquanto isso, mantenho um monólogo silencioso, que apenas é audível pelo meu espírito, nessas alturas, a que não posso escapar. E eu pecadora me confesso que se fosse percéptivel, iria ficar envergonhadíssima, perante os fiéis. Porque é o padre a pregar e eu noutra freguesia, no meu departamento crítico, praguejando. E gargalhando com a falta de imaginação, de inteligência para recrutar mais ovelhas para o seu rebanho.
Tanto machismo. Tanto preconceito. Tanta falta de tacto...
Bom, mas hoje foi diferente. A missa foi dolorosa, pelo motivo que foi, obviamente. Acompanhar a dor é muito sofredor. Porém o padre africano, de nome Hilário, conseguiu distrair-me desse cenário de partida, saudade, ausência e dei comigo a pensar no que leva um homem como ele a pregar nesta freguesia tão diferente do seu kimbo.
Homem novo, esclarecido e com um discurso tão coerente como despreconceituoso e ajustado aos tempos que correm. Se todas as missas fossem dadas por padres como o padre Hilário, de vez em quando conseguiam apanhar-me por lá. Muito de vez em quando...sem resistência ou dever.

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