Chego à mercearia cá do bairro. A Rita está a repôr produtos na arca. Sozinha na loja.
A esta hora não me pareceu normal. Passará a sê-lo, não tenho dúvidas. O pão sobra, o que é claramente, sintoma de falta de clientes. A fruta que fica de uns dias para os outros ( uvas brancas, melão e diospiros daqueles que se comem como as maçãs ), outro evidente sintoma.
- Boa tarde, d. clara. Está melhor ?
- Não, Rita. Mas espere lá, como é que sabe que eu não estou bem?
- Então? Você queixou-se que estava enjoada a outra vez que cá esteve. Ainda não lhe passou? Tem de ir ver isso.
Fiquei sensibilizada. Com a lembrança deste menina. É. Parece idiotice não é? Sem que me dê para ser kalimero, até porque não me adianta nada, todas as vantagens que já tive na vida queixando-me de qualquer coisita, se existiram, são passado. Já não são nada. Zero. Como se não as tivesse tido. Irrita-me que digam a propósito: Não és mas já foste. Não tens mas já tiveste. Isso ninguém te pode tirar.
Eh pá, caraca! Se acabou não existe, se não existe é vazio, um ar que lhe deu, um nada no meio de nada. E porque é assim, cada vez me queixo menos. Até porque se nos queixamos os ouvidos fazem-se de mercador, moucos que até dá vontade de ir com um funil, gritar, melhor berrar, a ver se percebem que uma criatura que se tem a ela própria nem sempre cabe na sua dor.
Deixando-me de tangas, pois que cada um tem aquilo que merece, ( será? ) cá vou cantando e rindo e às vezes suspirando. É nestes suspiros, desabafos e ofertas de broas dos Santos que a Ritinha vende na loja, que eu lhe terei dito que me sentia mal dos interiores e ela não esqueceu. Até porque para além do resto, quer vender. Broas, queijo de Castelo Branco, frutos secos; tudo o que a minha colite adora para me provar que existe, logo reclama. Não falando na vesícula que andava mansinha que nem um leão amestrado, mas está a mostrar-me, rugindo forte, quem manda neste corpinho que precisa de sopas e descanso. E por falar em sopas, entrei na mercearia da Rita para comprar alho francês, nabos, courgetes, cenouras, para fazer uma sopinha. Tudo produtos nacionais, comme il faut. Perguntam vocês, alguns que me conhecem sem ser do virtual: Então só para uma sopinha? Nãnãnãni! Claro que não. Essa não seria eu. Lá chegarei. Àquela que nem olhando nas montras das lojas me reconhecerei.
Apesar de não me queixar a ninguém, quase a ninguém, nem me confessar à maioria, ainda tenho o meu príncipe esta semana, e por isso mimo-o, o mais que posso. E isso passa pela loja da Rita. Ela até já pergunta: Então e o seu filho gostou do queijo? E o seu filho gostou das broas? O seu filho gostou das uvas? É claro que, apesar de me desbroncar toda, para muita coisa sou um túmulo, não parece, mas sou, ( ai se eu falasse como oiço tanta gente falar dos filhos ...eles não me perdoariam, e com razão, pois há direitos que não tenho ), e eu respondo à Rita que sim, o meu filho gosta.
O meu filho está e gosta. E eu estou a adorar ser, de novo, mãe de um filho presente fisicamente.
E apesar de andar mal, como se diria na terra longe, mali, mali, sou uma piegas porque mali ficarei eu daqui por uns dias e isto não é sofrer por antecipação. É ter a certeza de que se a Rita me " oferecer " queijo, broas, e outros, eu não vou querer comprar porque o lar que eu perdi e recuperei neste último mês de uma forma rotineira e maravilhosa, vai virar uma casa demasiado grande. Fria e triste. Apenas com duas gatas pingadas.
Duas gatas pingadas fomos nós, a Rita e eu, neste fim de tarde, na mercearia de bairro. Pior presságio não pode haver para as mercearias tradicionais. Se esta mercearia fecha não sei como me desenrascarei, pois que as grandes superfícies ficam lá longe e eu não tenho como lhes chegar se não fôr à boleia de uns e de outros. Assim como assim, há problemas maiores para resolver. A minha má disposição é um deles. E como sobreviverei para a outra semana. Este mais difícil de resolver. O que vale é que a caçula melhorou da pneumonia e a minha princesa recuperou ( mais ou menos ) do acidente. Uma amiga do peito, dizia-me há umas horas atrás que fizesse uma lista dos problemas e lhes desse prioridades de acordo com a capacidade de os resolver. E fosse resolvendo. É sábia esta amiga e durante os últimos anos foi quem me valeu para que a minha vontade de sobreviver não fosse para o cano.
Vida fácil? E boa? Ah! Sim, sim.
Não a vendo a ninguém porque não há quem tenha dinheiro para ma comprar, mas se querem algo de borla, dou-vos um conselho - não a invejem porque tirando eu, ninguém se entenderia com ela.
A esta hora não me pareceu normal. Passará a sê-lo, não tenho dúvidas. O pão sobra, o que é claramente, sintoma de falta de clientes. A fruta que fica de uns dias para os outros ( uvas brancas, melão e diospiros daqueles que se comem como as maçãs ), outro evidente sintoma.
- Boa tarde, d. clara. Está melhor ?
- Não, Rita. Mas espere lá, como é que sabe que eu não estou bem?
- Então? Você queixou-se que estava enjoada a outra vez que cá esteve. Ainda não lhe passou? Tem de ir ver isso.
Fiquei sensibilizada. Com a lembrança deste menina. É. Parece idiotice não é? Sem que me dê para ser kalimero, até porque não me adianta nada, todas as vantagens que já tive na vida queixando-me de qualquer coisita, se existiram, são passado. Já não são nada. Zero. Como se não as tivesse tido. Irrita-me que digam a propósito: Não és mas já foste. Não tens mas já tiveste. Isso ninguém te pode tirar.
Eh pá, caraca! Se acabou não existe, se não existe é vazio, um ar que lhe deu, um nada no meio de nada. E porque é assim, cada vez me queixo menos. Até porque se nos queixamos os ouvidos fazem-se de mercador, moucos que até dá vontade de ir com um funil, gritar, melhor berrar, a ver se percebem que uma criatura que se tem a ela própria nem sempre cabe na sua dor.
Deixando-me de tangas, pois que cada um tem aquilo que merece, ( será? ) cá vou cantando e rindo e às vezes suspirando. É nestes suspiros, desabafos e ofertas de broas dos Santos que a Ritinha vende na loja, que eu lhe terei dito que me sentia mal dos interiores e ela não esqueceu. Até porque para além do resto, quer vender. Broas, queijo de Castelo Branco, frutos secos; tudo o que a minha colite adora para me provar que existe, logo reclama. Não falando na vesícula que andava mansinha que nem um leão amestrado, mas está a mostrar-me, rugindo forte, quem manda neste corpinho que precisa de sopas e descanso. E por falar em sopas, entrei na mercearia da Rita para comprar alho francês, nabos, courgetes, cenouras, para fazer uma sopinha. Tudo produtos nacionais, comme il faut. Perguntam vocês, alguns que me conhecem sem ser do virtual: Então só para uma sopinha? Nãnãnãni! Claro que não. Essa não seria eu. Lá chegarei. Àquela que nem olhando nas montras das lojas me reconhecerei.
Apesar de não me queixar a ninguém, quase a ninguém, nem me confessar à maioria, ainda tenho o meu príncipe esta semana, e por isso mimo-o, o mais que posso. E isso passa pela loja da Rita. Ela até já pergunta: Então e o seu filho gostou do queijo? E o seu filho gostou das broas? O seu filho gostou das uvas? É claro que, apesar de me desbroncar toda, para muita coisa sou um túmulo, não parece, mas sou, ( ai se eu falasse como oiço tanta gente falar dos filhos ...eles não me perdoariam, e com razão, pois há direitos que não tenho ), e eu respondo à Rita que sim, o meu filho gosta.
O meu filho está e gosta. E eu estou a adorar ser, de novo, mãe de um filho presente fisicamente.
E apesar de andar mal, como se diria na terra longe, mali, mali, sou uma piegas porque mali ficarei eu daqui por uns dias e isto não é sofrer por antecipação. É ter a certeza de que se a Rita me " oferecer " queijo, broas, e outros, eu não vou querer comprar porque o lar que eu perdi e recuperei neste último mês de uma forma rotineira e maravilhosa, vai virar uma casa demasiado grande. Fria e triste. Apenas com duas gatas pingadas.
Duas gatas pingadas fomos nós, a Rita e eu, neste fim de tarde, na mercearia de bairro. Pior presságio não pode haver para as mercearias tradicionais. Se esta mercearia fecha não sei como me desenrascarei, pois que as grandes superfícies ficam lá longe e eu não tenho como lhes chegar se não fôr à boleia de uns e de outros. Assim como assim, há problemas maiores para resolver. A minha má disposição é um deles. E como sobreviverei para a outra semana. Este mais difícil de resolver. O que vale é que a caçula melhorou da pneumonia e a minha princesa recuperou ( mais ou menos ) do acidente. Uma amiga do peito, dizia-me há umas horas atrás que fizesse uma lista dos problemas e lhes desse prioridades de acordo com a capacidade de os resolver. E fosse resolvendo. É sábia esta amiga e durante os últimos anos foi quem me valeu para que a minha vontade de sobreviver não fosse para o cano.
Vida fácil? E boa? Ah! Sim, sim.
Não a vendo a ninguém porque não há quem tenha dinheiro para ma comprar, mas se querem algo de borla, dou-vos um conselho - não a invejem porque tirando eu, ninguém se entenderia com ela.
1 comentário:
olá! a menina Rita foi muito simpática e querida em perguntar isso. não se trata só de querer vender. as melhoras para si e um abraço. beijos
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