domingo, 30 de outubro de 2011

tradições e condições

foto tukayana.blogspotMuda a hora e tudo muda.
O sol apenas de manhã se anunciou. Aos poucos o dia foi tornando-se cinzento e frio. Gelado.
Estou a norte e a norte tudo é diferente.
Preparam-se campas limpando-as e florindo-as. Com as flores que se vendem na frente do cemitério. Há almoços de família porque os filhos que vivem no Porto, em Lisboa ou no sul fazem questão de vir para as comemorações dos Santos. O Dia 1 de Novembro, Dia de Todos os Santos aproxima-se a passos gigantes. Novembro está já aí. Até a hora mudou, para meu desassossego.
Chaves está em festa. É a Feira anual. Toda xptó. À moda antiga com escolhas, parte delas, modernas. E diversões para crianças e adultos. Para ricos e pobres. Para todas as condições sociais que aqui ninguém liga a isso.
Uma festa tradicional. A tradição, dizem que já não é o que era, mas em Trás-os-Montes as tradições mantêm-se vivas e são passadas de pais para filhos, netos, bisnetos. Só quem conhece esta realidade poderá perceber o que se passa nesta região. Assemelha-se muito a Angola. Parece estranho. Direi mais, descabido, mas olhem que é como estou a dizer.
Trás-os-Montes é uma região de muitos contrastes. Nas cidades e aldeias. Nos campos, nos montes, nas serras, planícies, rios e riachos. Nas suas gentes. E na cultura das mesmas. Porém, as diferenças não os separam. Bem pelo contrário, une-os. É nisto que estabeleço um certo paralelismo com Angola. Nas vivências. Se não vejamos - Uma família pode ter membros que não sabem ler, que estão desempregados, que trabalham a terra, funcionários públicos, emigrantes, doutores, daqueles de doutoramento, cientistas, políticos, ricos, pobres e remediados, católicos, ateus ou budistas, que se sentam na mesma mesa e conversam sobre os mesmos temas. E têm as mesmas convicções, os mesmos sonhos e o mesmo querer. E a uni-los os laços que nunca se destroem.
Trás-os-Montes é a região dos contrastes. Das diferenças e dos sentires. das tradições. Do apreço às raízes. Da protecção à família, sendo que apesar de todas as mudanças, ainda se acarinham e respeitam os velhos.
Hoje mudou a hora. Muda a hora e tudo muda. Menos a admiração e o respeito que tenho por esta região e seus habitantes.
Há tradições que nunca deviam chegar ao fim. Estar em família é uma condição que devia ser obrigatória. Eu assinava de cruz.

3 comentários:

nuno medon disse...

olá. delicio-me ao ler estes textos. trata as palavras por tu e escreve como ninguém. Ao ler estes textos, parece que estou a ler o " no teu deserto " do miguel sousa tavares, que adorei. Era bom que um dia lhe dessem a oportunidade de escrever um livro. e as fotografias também estão lindas. um abraço...durma bem.

Maria Clara disse...

Ó Nuno, olhe que o Miguel Sousa Tavares sentir-se-à ofendido se disto souber.
Não exagere sim?
De qualquer forma, obrigada pela intenção.
Bjs

nuno medon disse...

eu não exagero. Desde que leio blog´s, tenho encontrado pessoas que escrevem muito bem, até jovens na casa dos 20 anos que escrevem muitíssimo bem. beijos