
Hoje a minha viagem recua vinte anos. Quando no teatro da cidade, no palco do teatro da cidade, uma criança que eu parira iniciava as suas aulas de dança. Era ali a escola. A única, na cidade.
Foi ali que durante anos e anos diariamente vi evoluir a aprendizagem. Nascer a garra, determinação e prazer nessa forma de arte tão delicada e poderosa.
Naquele palco, com aquelas pessoas, partilhei momentos belos de rara alegria e prazer. Noites cheias de corações enormes em corpos esguios e corações apertadinhos de ansiedade em orgulhos de mãe.
Ser mãe de um artista é ter o coração nas mãos, o sorriso à beira das lágrimas, a cabeça a mais de mil e a boca calada com milhões de palavras bailando nos lábios. Ser mãe de um artista é sofrer por antecipação. É estar na corda bamba com ele. No limite, sempre.
É erguer as mãos em preces e agradecimentos. E palmas.
Ser mãe de um artista não é melhor nem pior. Não é fácil nem difícil.
É diferente.
O que é preciso então para ser mãe de um artista?
Nada de mais. Apenas Amor e Arte. Muito amor e muita arte...
Hoje, mais logo à noite, quando o artista que eu dei à luz, evoluir, na peça que ensaiou, no palco aonde um dia, há vinte anos eu apoiei no desejo de ser bailarino, tenho a certeza que não terei dúvidas de que ser mãe de um artista é ser diferente, e muito, muito compensador.
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