Sentei-me no 19, letra H. E deixei-me ficar.
Um rapaz alto, bonito e sorridente foi lendo. 17, 18...parou aqui. Depois, 19.
- É aqui ao lado desta senhora simpática.
Achado estava o meu companheiro de viagem. Graças a Deus que era jovem como a Lúcia.
- Não prefere ir à janela?
- Não.
- Porquê?
- Porque não gosto de incomodar nas idas à casa de banho.
-Tem razão. Vou procurar não incomodar sim?
Sentou-se. Apertou o cinto.
E inicou-se ali uma conversa agradável. Já tinha visto este filme e é daqueles filmes que dá para ver segunda vez, na boa.
Chama-se Maurício. É angolano e vive em Portugal desde 92. Está no último ano de gestão e turismo e quando terminar vai para Luanda de vez.
Levantámos e eu não dei por isso. Só quando olhei através da janela e da minha cabeça azamboada percebi que deixara de tocar solo angolano.
- Aiuê minha terra!...disse eu quando vi Luanda amarela de luz, lá em baixo.
Este menino que podia ser meu filho quer nesse momento quer ao longo de todo o vôo foi de uma delicadeza, educação e simpatia invejáveis.
Quando dei por isso a assistente de bordo já estava a perguntar: E os senhores o que é que querem? Como se fossemos juntos. Assistente de bordo essa que quando estava a servir sumo, mesmo ali à minha frente coçou a cabeça e meteu a unha do dedo mindinho na narina como se fosse normal. Que nojo!
Não dormi. Apenas passei pelas brasas. À minha volta toda a gente dormia. Alguns puxavam as mantas para o rosto e até ressonavam. A menos de 50 cms de mim tinha um pé de criança, esticado para a minha cara. De vez em quando o avião vibrava turbulentamente e não pude deixar de pensar naquela minha amiga que fazia parte da tripulação daquele avião da TAAG, o segundo, que avariou a seguir ao das peças que cairam em Almada, o tal que da Ilha de Luanda, viram o motor do avião em chamas para mais de 6 metros. E pensei que com a turbulência já era o que era fará se visse chamas de 7 metros. É preciso coragem! Apre!
O mP4 e o Maurício foram os anjos da minha viagem. Este último que dormiu a sono solto, quando acordou, olhou para mim e disse: Bom dia.
E eu não me surpreendi porque este miúdo foi de facto um doce na sua educação esmerada.
Foi mais uma viagem. Não como qualquer outra, mas mais uma. Gosto de andar de avião. Gosto, contrariamente ao que muita gente diz, de comer no avião. De espiar todos os movimentos da tripulação. De me levantar e ir à casa de banho. Só não gosto de ficar trancada, e também me calhou isso, mas consegui resolver. Ah e também não gosto de puxar o autoclismo, porque mesmo sabendo como é, assusto-me de ficar com o coração a sair-me pela boca.
Enfim, gosto de viajar. Sobretudo para Luanda. Esta foi a viagem de regresso a Portugal. Podia ter sido pior. Já cá estou. Sobrevivi a tudo. Até à agressividade da Pitanga, que pelos vistos está zangada comigo. Já tive o meu primeiro dia de trabalho que correu muito bem, que até me surpreendi. De facto, estou sempre a descobrir-me. E ainda bem.
4 comentários:
Oi! de volta menina Clara. Calculo que tenha sido até já à despedida.
Zezé
Yá. E está " deficele ". Faço contas de cabeça e percebo que apenas somei dois dias a subtrair ao regresso de novo. Apenas dois dias amigo!
Este ano foi ainda mais... caxan caxan.
Caxan, caxan! E viva o Babá. Não faças contas que te torna mais penoso o tempo do regresso.
Zezé.
não faças contas mulher DEIXA APENAS A VIDA TE LEVAR.....VIDA LEVA EU---SÊ FELIZ E AGRADECE POR TUDO O K DEUS TE DÁ
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