Acordei em câmara lenta. Num vagar surpreendente. E de surpresa em surpresa, acabei saindo de casa uns bons minutos antes da hora habitual. Num tempo tal que dava tempo de ir aos figos naqueles terrenos encosta abaixo a caminho do Vale do Alvorão, e voltar. E ainda em tempo de calmamente entrar pela manhã torrejana.
Fria e pálida manhã!
Num passo de tartaruga, lesma, caracol, este sem os corninhos ao sol, porque viste-o por raiar no horizonte, para os lados de Tomar, me desloco.
Acho que hoje o sol nem faz falta. Como no chavão, que diz que só faz falta quem está. Eu não sei se concorde, mas para não ser do contra nem confirmo nem desminto esse lugar comum de que ninguém é imprescindível.
Eu, santa paciência, já não prescindo de mim. Bem sei que neste momento sou só um avantajado umbigo, mas não prescindo e não há nada a fazer.
Ia, então eu, nessa calmaria, no passo do faz de conta que estou de férias, olhando com olhos de ver, para tudo o que mexe, e que surpresa...a cidade não mexe. Igual ao meu vagar.
Acorda devagarinho. Esfrega os olhos preguiçosa e espreguiça-se por entre os silêncios que não se quebram. Refresca o rosto no rio que corre. E espreita a minha passagem.
Só eu e a cidade. Pouco mais. Um carro de vez em quando e ninguém pelos caminhos.
Páro, olhando o castelo. Parece crescer impertigadamente sobre o rio de águas frescas. Em cada pedra secular que o desenha. É abraçado, ( ilusão de óptica ), pela serra que está mais verde que nos outros dias. E com contornos melhor definidos.
Sinto a ausência das gentes no silêncio das coisas.
Olho as árvores do parque. Renovam-se com a renovação das estações.
Não sei porque raio acordei tão cedo. Não tenho pressa e a cidade pisca-me o olho coquete. Quer conquistar-me. Não caio assim às primeiras. Não quero esse flirt matinal e passageiro.
Esta terra tem sido um pouco madrasta e não pode vir com falinhas mansas de manhã fria de Agosto.
Uma coisa conseguiu. Que pergunte num tom mais afirmativo do que interrogativo. Melhor. Entre um e outro. O que é que falta a esta cidade?!
Quase sinto compaixão, neste desamor que reconheço e que ostento como baluarte. Quase me arrependo. Não sou a única culpada. Porque não me mantém presa? Apaixonada? Porque não me conquistou?
Contemplo-a benevolente. Hoje sinto a sua força genuína e como a um inimigo que está no nosso patamar, respeito-a e tiro-lhe o chapéu.
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