Cheguei ao autocarro, de mau humor. Os pés a escaldarem. Os tornozelos doridos, as pernas em esforço. A cabeça, doida.
A motorista era a senhora " generala " que de simpática que é, quase me convenceu que a vida é bela e nós é que damos cabo dela, não fosse dar uma palmadinha nas costas dum puto que deve conhecer, só pode, e que o ia tombando pondo-o vermelho que nem um tomate maduro.
Disse-lhe que fumasse à vontade que eu ia entrando e depois voltaria a ela.
As " marretas " do banco da frente, number one, hoje já estavam, e no seu melhor. Fizeram-me um cumprimento rasgadíssimo. A mais pequenina, cambuta, igual a uma bola de berlinde colorida, sorrindo simpaticamente ( não sei o que se passava hoje que todas me pareceram simpáticas )disparou:
- Já se acabaram?
Não. Não estava a acreditar. Dose dupla?
Lembrei-me assim num de repente que quando tive a pneumonia ou fosse lá o que aquilo fosse e andei mais de um mês a tossir, com febre e dores nas costas,com um ar tão desgraçado que até eu tinha dó de mim, apenas um ou outra me desejava as melhoras, muito como quem não quer a coisa, não fosse eu passar-lhes todos os vírus que não tinha. Eu não sou vingativa...mas quem mas faz, paga-mas.
- Acabaram sim. Em Setembro há mais.
Pronto, dissera-o. Mazinha. Muito mazinha sim.
- Eu também ainda tenho uns diazitos para Setembro - crescendo para berlinde e meio.
- E eu para Dezembro - Ai que prazer me deu dobrar isto, num quem dá mais.
Desistiu. Não tem mais um dia que seja para me acenar. Temi que me acenasse com alguma baixa a fingir (?), daquelas que em tempos se davam.
Eu ainda teria 5 dias de Janeiro, mas fiquei por ali. O resto do autocarro ria. Elas não são burras e conhecem-se há muito tempo. Eu não. Eu só ando de autocarro há cerca de três anos, mas desconfio e a desconfiar sou para lá de boa.
Sentei-me. Liguei o MP3 do Bruno, que ainda uso, porque o pai do Bruno ( mano Zé ) não teve tempo para pôr as minhas músicas, mais que muitas no presente que os miúdos me deram no aniversário, um MP4.
Decididamente, não é o meu dia. Voltas dadas e acabei a ouvir Paulo Flores cantar que " É doce morrer no mar " repetidamente. E não fui capaz de voltar à fase primitiva. A simples. Que não custa nada saber. Como se faz aos cachopos.
Ouvir alguém cantar esta frase durante 2,3 minutos, ok, tudo bem, assim em dose repetida, é muita morte doce no mar, e o mar que é salgado de repente ficando com aquele sabor acre e doce, enjoativo, parecido com a preparação que nos mandam tomar para fazer uma colonoscopia, deu-me para num repente, lembrar-me de todas as pessoas que sei que gostam do mar incluindo eu, e vermo-nos todos agonizando docemente num mar azul... que arrepio! Que espetáculo deprimente!
Ou eu aprendo a trabalhar com o MP3 do Bruno ou pressiono o mano Zé para aprender rapidamente as manhas do meu, de direito. E agora, por conta de um princípio de manhã miserável, para ouvir o Paulo Flores, morrendo docemente no mar, vai ser preciso que o outono chegue, para que se criem as condições necessárias para o voltar a ouvir sem que isso me incomode o estômago e a vesícula.
Porque o Outono é a estação da queda da folha, da saudade e do romantismo, feita cacimbo e qualquer música de Paulo Flores encaixa no tempo ameno de manhãs bonitas, tardes curtas e noites frias é que acredito que ainda vai ser possível ouvir esta bonita canção sem que se me revolvam as entranhas. É preciso ter fé...
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
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