Acordei assustada. Tive um daqueles sonhos, a que chamamos pesadelo, que sempre acontece quando estamos a dormir e o nosso subconsciente liberto faz o que não deve. Angustiar-nos, provocar-nos taquicardia.
Dizer-nos que é possível acontecer...se o sonhamos.
Sonhei que estava com a minha kamba, em Lisboa. E assim num de repente como quem estala os dedos ela anuncia-me que faltam quinze dias para a viagem para Luanda. E eu, entro em pânico. Dou-me conta que nem o bilhete tenho.
Eu sei o que é isto. Oh se sei!
Tenho de passar por várias barreiras até à minha estadia em Luanda que quero que seja realidade. E à medida que o tempo se aproxima, começo a ficar pessimista, estado em que me coloco facilmente, não fossem as pessoas optimistas que me cercam, estarem atentas.
Isto porque não tenho vida fácil e nada obtenho de mão beijada, assim numa facilidade que observo nas vidas de outros. Sem esforço, e sem vencer dificuldades. E por vezes tão grandes que me levam a pensar se não será melhor desistir. Mas o meu espírito um pouquito guerreiro, xinga-me num insulto de kandengue de rua: Uôôôô, mariquinhas, sempre a mesma, afinal não mudaste népias. Fica aí mesmo, te mereces..."
Picada, reajo. E não há ser que me pique mais do que o tal do espírito, fotocópia de mim. Aliás, pareço um passador...
Mas, felismente que não faltam quinze dias. Há tempo que a gente não quer que passe tão depressa assim, para que haja tempo, para saltarmos os obstáculos.
É esse tempo que eu quero para mim. Num relógio de horas certas, num tic-tac calmo e sereno para que finalmente eu possa acreditar que brevemente tenho todas as barreiras ganhas e posso sonhar com a voz do comandante, as luzes de Luanda ao cair do dia, noites cálidas, a lua prateando a baía, os galos cantando à meia noite, as manhãs melodiosas num é peixiêêê, peixiêêê, das quitandeiras, as mangas maduras, escorrendo líquidas pelos meus braços até aos cotovelos, os doces de coco, as maçãs da índia, a quitaba, a Baixa fervilhando de trabalho e movimento, a Ilha colorida e o seu farol, a luz maternal da avenida Brasil, as acácias e as mulembas, as tardes longas, o pôr do sol, os sábados do meu encanto, os domingos de manhã, o cheiro do mar dos mares, e os abraços maiores do que o universo...de um tamanho sem tamanho...
Não há como, transformar os pesadelos em sonhos! E eu sou capaz. É preciso acordar lucidamente, para Sonhar.
E neste momento só me apetece ouvir Helvio em Kuma, melodia cuiosa que faz sonhar regresso, alegria, casa, kimbo, Luanda...
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
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