Hoje viajei no tempo. No tempo dos tambarinos. Das gajajas e maçãs da índia dos quintais da minha rua. Do pão acabado de cozer da padaria duma esquina da minha rua. Do carro do fumo desinfectando as casas da minha rua. Dos jogos de escondidas, e das corridas de bicicleta ao longo da minha rua. Do povo vindo da baixa e atravessando a minha rua para os musseques. Dos morcegos comendo mangas das mangueiras da minha casa...na minha rua.
Do tempo em que o tempo era tanto e tão pouco para tanta guluseima e tanta brincadeira...
Deitada numa espreguiçadeira, espreguicei as lembranças no livro maravilhoso de Ondjaki, " os da minha rua " e saltei o muro directamente para a minha rua, do outro lado do tempo e do lugar.
Quando li o último parágrafo, os meus olhos foram mar. O mar do meu lugar.
Ficaram-me frases que não são só de palavras escritas. São verdades que ninguém pode alterar.
" - Não sei onde é que as lesmas sempre vão, avó.
- Vão para casa, filho.
- Tantas vezes de um lado para o outro?
- Uma casa está em muitos lugares - ela respirou devagar, me abraçou. - É uma coisa que se encontra. "
E ainda
"...para saber de um certo sul.
como se tempo fosse um lugar,
como se infância fosse um ponto cardeal eternamente possível. "
A delícia que foi sentir o livro deste escritor fez-me partir para os cacimbos desde o meu nascimento até hoje e confirmar que a infância é um ponto cardeal sempre possível.
Obrigada Ondjaki, por ter retratado com tanto amor e ternura, a infância nas ruas de Luanda. Qualquer rua, quaisquer meninos.
Todos fomos assim. Todos nos identificamos.
Porque Luanda nos deu a possibilidade de sermos crianças e termos infância.
terça-feira, 10 de agosto de 2010
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