Na minha hora do almoço, fui visitar o Museu da Boneca.
Num edifício recuperado pela Câmara Municipal, o Museu tem neste momento expostos cerca de setecentos bonecos de várias épocas, tamanhos e materiais.
Rosa Vieira é a colecionadora de bonecas que cedeu a sua colecção ao Museu. Diz ter cerca de seis mil bonecas, porém não cabem nas instalações, sendo por isso substituídas de vez em quando para que todas tenham lugar que serve de deleite e contemplação, para quem brincou, brinca e gosta de bonecas.
Conversei com esta senhora, que estava no hospital das bonecas, um compartimento pequeno onde recupera bonecos, encontrando-se no momento a recuperar um boneco da Ilha da Madeira que tem cerca de cinquenta anos. Perguntei-lhe se havia ali alguma boneca de Las Palmas. E a senhora comoveu-se com a pergunta. Explicou que ao passar na Ilha de barco, a caminho do Brasil, as bonecas iam a bordo, pelas mãos dos vendedores e desejou muito ter uma mas não lha compraram.
Eu, Maria Clara das Dores, quando tinha cerca de 4, a 5 anos, tive de presente uma boneca de Las Palmas, comprada aí, por alguém que fora para Luanda de barco. Era quase do meu tamanho. Dizia papá e mamã e simulava uns passitos. Adorava essa boneca que era um verdadeiro luxo, peça rara e cara e nem todas as miúdas tinham a sorte de brincar com uma boneca assim.
Perguntei-lhe por uns bonecos pequeninos que faziam de filhos das bonecas grandes e que eram masculino e feminino sendo que o boneco tinha um caracol que o distinguia da boneca. Morria de amores por esses bonecos e o instinto maternal iniciou-se aí, com esses bonecos.
Encontrei-os aqui no museu. Também eu me comovi com estes bonecos todos que vi.
Vi também no hospital, para ser arranjado, um chorão, os bonecos que apareceram na minha adolescência e que eram uma coisa tão ternurenta que dava vontade de apertar e dar muitos beijos nas belas bochechas que tinham.
Comprovei que o universo dos bonecos é feminino. Racista e preconceituoso. Em 700 bonecos, talvez 10 sejam masculinos.
Apenas dois bonecos negros estavam expostos.
Lembrei-me do meu boneco da TAAG, negro, que a Susete me ofereceu há muitos anos e que guardo religiosamente como relíquia.
Poderia cedê-lo ao museu, mas foi-me oferecido pela minha kamba de liceu.
Enfim, gostei de visitar o museu. Se passarem por Alcanena não deixem de o fazer. O bilhete apenas custa 1,60€ e a localização é fácil. Por de trás do tribunal. Vão gostar, certamente.
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
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