Morreu o Zé Cigano.
Não imaginava que este homem morresse.
Há pessoas assim. Que não morrem.
Que não faz sentido que morram.
Que têm uma altivez, um desapego da vida e das pessoas que não esquecemos.
Conheço-o há muitos anos.
Patriarca de uma família cigana, vendedor ambulante pelos mercados, sempre acompanhado da Bia, sua mulher e dos filhos, ( o Zé e o Helder, os que conhecia melhor e mais dois ) vestido de preto ( por ter enterrado já tantos familiares, incluindo dois filhos ),de um metro e oitenta e tal, magro, direito e impecavelmente vestido, chapéu na cabeça e o porte de quem já viu tudo.
Hoje quando passei em frente à mortuária reparei na quantidade de gente que ali estava, pacientemente esperando. Velando o corpo. Cumprindo.
Vi o Helder, seu filho. E pensei se não seria alguém da família ou amigo.
Mais tarde a minha amiga disse-me que o Zé Cigano morrera.
Foi com tristeza que recebi a notícia.
O Zé Cigano era considerado o pai dos ciganos. Uma figura de destaque na cidade e arredores. Arredores do mapa de Portugal. Uma figura que impunha respeito à sua comunidade e aos outros.
Vi-o a última vez tomando o pequeno almoço com a Bia, sua mulher, no Limão Verde. Pastelaria muito conceituada de Torres Novas e onde os encontrava muitas vezes.
O Zé Cigano vai a enterrar amanhã. Terá muita gente a acompanhá-lo. Já estão nas imediações da casa murtuária e mais chegarão de todos os cantos do país amanhã. Ele merecia-o.
Torres Novas perde um personagem que fazia parte da cidade.
Tão conhecido, ou mais, que o Presidente da Câmara. E respeitado.
Por mim, lamento. Gostava de os ver juntos, sempre juntos, a Bia e ele. Gostava de pensar que eles eram o exemplo de que se é injusto quando se fala em minorias. Gostava de os apontar como exemplo, nas discussões que tenho por causa de minorias injustiçadas.
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
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